Os últimos dias de férias na Califórnia poderiam ter sido melhores, na opinião de Evie. Entre os intervalos entre os jogos e as investidas de Josh para reconquistar a namorada, ele e os irmãos não paravam de brigar. Margo sempre intervinha por Josh, o que acabava despertando mais raiva em Kevin e Abigail e sempre desencadeando novas brigas. Martin era o único que permanecia afastado das discussões, por saber que era uma batalha perdida. Max parecia se divertir vendo as discussões, mas Evie já estava perdendo a paciência.

Josh, Kevin e Abby brigavam pela enésima naquele dia e percebendo que de nada adiantaria tentar intervir, Evie saiu batendo a porta da sala sozinha pensando em caminhar um pouco na praia. Era o ultimo dia de férias em Los Angeles, naquele mesmo dia à noite ela estaria pegando o avião de volta para a Bulgária e preferia que suas ultimas horas em Los Angeles fossem um pouco mais agradáveis.

Há anos que ela passa as férias com Josh, mesmo antes de se tornarem namorados, e isso dava a ela a tranqüilidade de poder passear pelas ruas sem se preocupar em não encontrar o caminho de volta. E ela tinha até seu lugar favorito para relaxar: um banco na calçada de Venice Beach, de frente para o mar. Evie podia sentar ali e passar horas observando as pessoas entrando e saindo da água, apenas aproveitando a brisa fresca que batia em seu rosto, muito diferente da brisa gelada de Durmstrang.

Ela já estava cansada de ler, e resolveu caminhar entre as palmeiras na areia da praia. Mas não deu nem três passos quando viu um vulto correndo na sua direção, e em seguida sentiu algo bater com força na sua cabeça, a derrubando no chão de imediato. Sua visão embaçada permitiu apenas distinguir que haviam dois garotos ajoelhados na sua frente, um maior que o outro.

‘Oi, consegue me ouvir?’ O maior falou em um tom de voz preocupado

‘Ela está viva?’ Evie ouviu uma voz culpada de criança ‘Desculpa, não queria perder a bola’

‘Tudo bem, Connor, você não fez por mal’ o outro tornou a falar ‘Vá procurar a bola’

‘Ai minha cabeça... O que aconteceu?’ Evie tentou levantar, mas estava tonta

‘Meu irmão não conseguir agarrar a bola e ela acabou derrubando você’ o menino a ajudou a se levantar. Era o garoto do jogo de basquete ‘Está se sentindo bem? Como se chama? Quantos dedos têm aqui?

‘Estou bem, me chamo Evangeline, mas todo mundo me chama de Evie’ Falou passando a mão na cabeça e tentando racionar ao se dar conta de quem a ajudava a se levantar ‘E tem três dedos’

‘Não precisava falar a quantidade de dedos, pois se lembrou de um nome grande assim, é porque não está desorientada’ ele falou brincando e ela riu

‘Foi você que atirou a bola pra ele?’ Ele confirmou com a cabeça e ela continuou ‘Seu braço é forte então, porque vi você tão longe!’

‘Desculpa. Está se sentindo bem mesmo?’ Ele tinha um tom de voz preocupado e ela parecia estar gostando

‘Sim, não precisa se preocupar. Vou sobreviver’ disse brincando

‘Posso acompanhar você até sua casa se quiser. Você não tem cara de ser daqui, pode ficar tonta e se perder em Los Angeles’

‘Não sou daqui, mas venho todo ano, acho que estou familiarizada com as ruas’ Evie respondeu sorrindo ‘E meu irmão está vindo ali, volto com ele’ ela apontou para um garoto caminhando na direção deles

‘Bom, nesse caso vou indo’ o garoto pegou a prancha enterrada na areia e chamou o irmão outra vez ‘A gente se vê por ai, Evie’

‘Acho difícil, vou embora hoje à noite’ ela não sabia porque estava dizendo isso, mas não conseguir se conter

‘Tenho um pressentimento que ainda vamos nos ver outra vez’ o garoto respondeu e se misturou às pessoas que passavam, desaparecendo antes que ela pudesse responder

Max alcançou Evie um minuto depois e sua cara de espanto denunciava que a bola deixara uma marca na testa da garota, mas ela não estava se importando com isso. A única coisa em sua mente naquele momento era que ela ia embora à noite e acabara de perder a chance de saber o nome do menino que tanto procurou.

Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina, paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

Palavras Ao Vento - Cássia Eller


‘E então? O que quer fazer hoje?’

Aquela pergunta se tornara freqüente desde que Evie exigiu mais atenção do namorado. Na primeira semana ela estava adorando toda a atenção que lhe era dedicada, Josh sempre foi muito atencioso e voltara a ser o namorado de alguns meses atrás. O problema era que toda aquela dedicação começava a cansá-la. E Evie sentia-se extremamente mal por estar se irritando com ele, pois fora ela mesma quem reclamara antes. Mas estava realmente ficando enjoativo.

‘Podemos ir naquele restaurante novo, ou ficar em casa sem fazer nada, só passando mais tempo a sós’ Josh a abraçou e a beijou ‘O que prefere?’

‘Prefiro que você vá ao jogo de hoje’ Respondeu sem perceber

‘Como é?’ Ele pareceu confuso. Não era ela quem não queria mais ouvir falar em Beisebol?

‘Acho que fui um pouco exagerada quando disse que não queria mais que você fosse aos jogos’ Mentiu, mas não poderia dizer a verdade ‘Nossas férias acabam em quatro dias e você não vai querer perder o ultimo jogo que pode assistir, não é?’

‘Não. Mas prefiro ficar com você. Prometi que não ia mais e vou cumprir minha palavra’

‘Não Josh, tudo bem’ Evie tentava não soar desesperada ‘Estava pensando em visitar a Vivi hoje, e sei que você detesta me acompanhar quando vou a casa dela. Vá ao jogo, não me importo, de verdade. Amanhã fazemos alguma coisa’

‘Tem certeza disso?’ Ele olhou para ela desconfiado ‘Porque não me importo de perder o jogo por você’

‘Tenho’ Ela o beijou e levantou do sofá, pegando a bolsa ‘Vá logo, ou vai perder o início da partida’

Josh pulou do sofá sorridente e em menos de cinco minutos já estava com as chaves do carro e os ingressos na mão. Ele se despediu dela e correu para a garagem. Se dirigisse rápido, ainda encontraria Max e Kevin do lado de fora do Dodgers Stadium. Evie esperou até que ouvisse o carro saindo da casa e foi até o quarto. Ela não tinha a menor intenção de visitar Vivian, sabia que ela não estava na Califórnia aquele verão ou teria feito a visita logo no primeiro dia. Tudo que ela queria era passar uma tarde sem que se sentisse sufocada. Queria andar a toa na rua, sozinha, sem nada planejado, mas nunca poderia dizer isso a ele ou o magoaria.

Depois de vestir uma roupa mais confortável, ela saiu da casa dos Pace sem lugar certo para ir. Mas enquanto fazia o que deveria ser uma caminhada sem rumo, ela logo percebeu que sabia aonde queria chegar. Antes mesmo que pudesse assimilar o que estava fazendo, já havia chegado à mesma quadra onde ficou sentada sozinha enquanto Max, Josh e sua família almoçavam, logo no primeiro dia em Los Angeles.

Naquele dia, no entanto, eram pessoas diferentes que jogavam. Ela logo reconheceu Martin em meio aos garotos, jogando no time com camisetas brancas dos Lakers. E no time adversário, com as camisetas amarelas do mesmo time, Evie encontrou o que procurava. Ela não queria admitir, e talvez nunca o fizesse, mas havia caminhado até o calçadão da praia, e em especial para as quadras de basquete de rua, na esperança de rever o garoto que lhe chamou a atenção.

Martin viu que ela assistia ao jogo e acenou, indicando que falaria com ela quando terminasse. Ela ficou no mesmo lugar até que o jogo acabasse apenas observando os garotos. Quando a partida foi encerrada e Martin correu até ela, o garoto desapareceu. Era como se ele nem estivesse jogando segundos antes, dada a maneira com que evaporou de seu campo de visão. ‘Droga’ murmurou sozinha.

‘Pensei que estaria em alguma gôndola hoje’ Martin tirou uma toalha da mochila e secou o rosto, rindo ‘Ou a programação de hoje era um jantar à luz de velas?’

‘Pare com isso’ Disse séria, mas não segurou o riso muito tempo ‘Seu irmão estava me levando a loucura! Ele já conjurava um lenço para mim, antes mesmo que eu espirrasse! Caso você espirre, amor... Sou precavido’ Ela imitou a voz de Josh e Martin riu, mas sentiu-se culpada em seguida

‘Meu irmão é um pouco carente’ Ele mantilha a toalha na cabeça enquanto falava ‘Não entendo bem o porquê, mas é. E se você exige atenção dele, ele acha que entende a sensação de abandono e exagera um pouco. E especialmente quando se trata de você. Podemos não nos entender sempre, mas sei o quanto meu irmão gosta de você, Evie’

‘É, eu sei disso’ Disse se sentindo mais culpada ainda por estar reclamando do excesso de atenção ‘Não é justo eu reclamar, sei que ele só queria me agradar’

‘Não se julgue por não gostar dele do mesmo jeito que ele gosta de você’ Falou enquanto pegava a garrafa de água na mochila e bebia ‘Isso é normal, você não é obrigada a sentir o mesmo que ele’

‘Que história é essa, Martin?’ Evie tentou soar indignada, mas acabou deixando transparecer que estava mesmo era surpresa com a indireta dele ‘Você é o que? Psicólogo?’

‘Ainda não, mas pretendo ser um daqui a três anos’ Disse rindo do espanto dela

‘Tem alguma coisa que você esqueceu de me contar?’

‘Tem sim. Estou cursando psicologia na UCLA’ Martin olhava para a areia da praia enquanto falava ‘Comecei ano passado, já terminei dois semestres’

‘Martin, que demais! Mas por que não me contou antes?’

‘Porque ninguém sabe’ Ele agora a encarava ‘Mamãe acha que é perda de tempo ter uma formação em algo trouxa, mas eu não concordo. E se ela souber, vai me infernizar até que eu desista’

‘Mas se Margo não sabe, como está pagando a Universidade?’

‘Paul. Ele também acha importante me especializar em algo tanto no mundo bruxo quanto no trouxa, e está pagando. Fizemos um trato: ele não conta nada a minha mãe, e quando começar a trabalhar, pago a ele tudo que ele gastar comigo durante meus quatro anos lá’ Ele agora sorria um pouco ‘Ele não gostou muito da parte onde disse que pagaria, mas forcei-o a aceitar’

‘Então só ele sabe? E agora eu?’

‘Sim, é por ai...’

‘Que honra! Bom, então não se preocupe que não vou contar nada a ninguém!’ Ela sorriu ‘Mas quero desconto nas consultas’

‘Você vai ser minha primeira paciente. E podemos começar agora, já que acertei algo que você não quer admitir pra si mesma, certo?’

‘Talvez seja melhor esperar até que você esteja formado’ Evie fingiu estar indecisa e Martin riu

‘Tudo bem, eu espero. Talvez essa seja minha tese de conclusão de curso...’

‘Engraçadinho’ Disse tomando a garrafa de sua mão e espirrando água nele ‘Vamos dar uma volta, as conversas tendem a serem mais agradáveis e fáceis enquanto estamos caminhando’

Eles levantaram do banco saíram para dar uma volta, passando por ruas que ela conheceu muito tempo antes, quando a vida era simples, quando nada era tão confuso e complicado. E então ela percebeu que os bons tempos tinham terminado. As coisas haviam mudado e nunca mais seriam as mesmas.

Take me out to the ball game,
Take me out with the crowd;
Buy me some peanuts and Cracker Jack,
I don't care if I never get back

Take Me Out to the Ball Game - Jack Norworth

‘Vai Brunson, elimina esse idiota!’

‘Sem chance, Jeff Shaws é o único que tem chance de tirar o rebatedor dos Giants, cara. Presta atenção Evie!

‘Ok Josh, já sei! Você já falou 500 vezes que ele vai rebater e fazer um touchdown, não precisa pedir que eu olhe pro campo de 5 em 5 segundos!’

‘HOMERUN!’ Max berrou e fez voar amendoim em cima de um senhor sentado na frente dele

‘Isso é beisebol, meu amor, não futebol americano’ Josh falou em um tom mais controlado que Max

‘Que seja, não me importo’ Respondeu azeda

Evie revirou os olhos e olhou, sem alternativa, na direção que o namorado e o irmão observavam atentos. O arremessador chamado Willian Brunson lançou a bola e o rebatedor do time adversário mandou-a direto para o estacionamento do estádio. Josh chutou o copo de refrigerante em frustração e Max desandou a tecer reclamações contra o péssimo arremessador dos Dodgers.

Aquele era o 4º jogo que ela era forçada a acompanhar o namorado, sem mencionar os treinos. Ela sabia que todo verão tinha temporada de Beisebol e que Josh era um fã incondicional dos Los Angeles Dodgers, mas era a 1ª vez que ele decidia ir a todos os jogos, incluindo os fora da cidade. Segundo ele, aquele era o ano dos Dodgers. O único problema era que Evie não agüentava mais.

‘Josh, vou comprar alguma coisa para comer’ Ela levantou do banco

‘Traz outro amendoim pra mim, Evi!’ Max falou sem tirar os olhos do campo, onde Jeff Shaws se preparava para entrar

‘É, espere sentado’ Ela respondeu de modo que os meninos não pudessem ouvir

O estádio inteiro ficou de pé para dar apoio ao jogador que agora já estava em campo e Evie passou pelo meio das pessoas que pulavam e cantavam, mas não foi na direção da lanchonete. Sua intenção nunca fora comprar comida, e sim atravessar os portões que levavam para a rua. O primeiro jogo ela achou divertido. O segundo foi legal. O terceiro um pouco cansativo. Mas o quarto já era um abuso.

Os arredores do Dodger Stadium estavam tão movimentados quanto o lado de dentro dele. Os torcedores que não conseguiam ingresso costumavam se reunir em frente a ele para assistir a partida de televisões minúsculas, mas que pareciam servir perfeitamente bem. Evie procurou um banco vazio e sentou. Ficaria ali até a partida terminar e Josh e Max saíssem, provavelmente já à sua procura. Ela duvidava muito que fossem notar que ela não voltara enquanto a partida não terminasse.

‘Ei gatinha, quer dar uma volta no meu carro?’ Um rapaz dirigindo um Buick 1969 parou ao lado dela e Evie olhou com cara de quem ia cuspir fogo, mas depois sorriu

‘Se você prometer me levar para longe daqui, quero sim’ Ela ficou de pé e parou ao lado da janela do carro

‘Então entra que vou tirar você desse tédio’

A porta do carro abriu e Evie entrou. O motorista tornou a girar as chaves e em menos de um minuto o Dodgers Stadium já não podia mais ser visto. Martin era irmão mais velho de Josh, o 3º filho de Margo Brenner. Seus outros dois irmãos mais velhos eram Abigail e Kevin. E de todos os três irmãos de Josh, Martin era sem duvida o que Evie mais gostava. Por ser o filho do meio mais novo, Kevin era o mais velho, o Martin de 2 anos de idade foi deixado de lado depois que Josh nasceu. Enquanto todas as atenções da casa estavam voltadas para o caçula da família, ele aprendeu a crescer estando sempre em segundo plano, e aprendeu também a não se queixar disso. Evie nunca concordou, mas se o próprio Martin não reclamava, ela não achava que deveria.

‘O carro não é um Jipe 0km, mas ao menos ele anda’ Ele falou um pouco sem jeito quando já estavam longe

‘Eu achei o máximo’ Evie respondeu sorrindo ‘Odeio aquele Jipe, o vento fica batendo no meu cabelo e ele fica todo desarrumado’

‘Já falei o quanto gosto de você, Evie?’ Martin riu ‘Você sempre me anima’

‘Mas eu gostei de verdade. É um pouco antigo, mas tem seu charme. Como conseguiu comprá-lo? Não foi Margo, certo?’

‘Não, comprei com o meu dinheiro. Vovô me deixou uma boa quantia de herança quando morreu, e agora que já fiz 18 anos pude mexer na conta’ Ele parecia orgulhoso por ter comprado o carro sozinho ‘Ele deixou uma quantia até alta para mim, mas não quis gastar tudo em um carro, vou precisar do dinheiro depois. E bem, o carro anda, não anda? É só disso que preciso, afinal, sou bruxo e posso aparatar’

‘Tem toda razão, carro é só para passear um pouco, aparatação é mais prático. E mesmo sendo velho, ele me salvou de ficar sozinha do lado de fora do estádio até que Beavis e Butthead saíssem’

‘Imaginei que estava cansada de assistir a partidas de beisebol e estava mesmo indo ao estádio para lhe fazer companhia, mas que bom que já estava do lado de fora e me poupou o trabalho de entrar’

‘Obrigada, de verdade. Se Josh falasse sobre alguma outra jogada comigo, seria capaz de espancá-lo’ Ele riu

Martin estacionou o carro perto da praia e o que prometia ser uma tarde entediante se transformou em 3 agradáveis horas enquanto eles caminhavam pela areia tomando sorvete e colocando a conversa em dia. Já começava a escurecer quando duas figuras bastante conhecidas apareceram correndo aonde o carro estava estacionado. Max e Josh estavam de volta.

‘Evie!’ Josh a agarrou, o rosto suado ‘Por onde andou?? Procuramos você por toda parte!’

‘Eu saí há mais de 3 horas, só agora notaram que eu não retornei com o amendoim do idiota do Max?’

‘Não, nós percebemos depois de meia hora, mas-’

‘Mas não podiam sair para procurar, porque o jogo era mais importante’ Ela o interrompeu

‘Não, nada disso’ Josh respondeu de imediato, mas não conseguiu dizer mais que isso ‘Mas prometo compensar no próximo jogo!’

‘Nem pensar!’ Ela agora gritava ‘Eu juro para você, Josh, que se tornar a falar de beisebol comigo pro resto da sua vida, eu arrebento a sua cara!’

Max e Martin começaram a tossir descontrolados encostados no carro. Era aquele efeito que se tinha quando alguém tentava disfarçar uma gargalhada. Evie olhou para os dois séria e eles pararam.

‘Estou falando sério’ Ela encarou Josh ‘Ou você se toca que estou aqui e vou embora em duas semanas, ou avise logo que pretende passar o resto do seu verão com os fanáticos naquele estádio, que antecipo minha volta para amanha! Está na hora de escolher o que é prioridade pra na sua vida’

Ela esperava que Josh fosse um pouco mais rápido com a resposta, mas resolveu dar um crédito devido ao fato de que aquela era a primeira vez que ele a via tão irritada a ponto de gritar no meio da rua.

‘Sem mais jogos de beisebol’ Respondeu decidido ‘As próximas duas semanas somos só eu e você’

‘Ótimo, estamos começando a nos entender...’ Ela respondeu ainda sem sorrir e entrou no carro de Martin 'Vim com ele, vou voltar com ele. Nos vemos em casa' E fechou a porta, não deixando outra alternativa a Josh a não ser pegar o Jipe e seguí-los

~*~*~*~*~*~

N.A.: Dedicado a Lore, porque ela realmente acreditava que se marcava um touchdown em uma partida de Beisebol...

Everybody's looking for that something
One thing that makes it all complete
You find it in the strangest places
Places you never knew it could be

Flying Without Wings – Westlife



As férias da Espanha tinham terminado e depois de se despedir dos primos e tios, Evie seguiu para a Califórnia com o irmão Max. Eles passariam o ultimo mês inteiro em Los Angeles, na casa de Josh. Evie não via a hora de chegar lá, estava morrendo de saudades dele, e esperava que as impressões e sensações estranhas que teve durante o ano evaporassem assim que reencontrasse o namorado.

Eles haviam finalmente chegado à estação de Union Pacific e Josh já estava parado ao lado do carro à espera deles, exatamente como a ultima imagem sua que Evie tinha: usava bermuda, camiseta, óculos escuros e seu inseparável boné dos Los Angeles Dodgers, o time de baseball que ele torcia, um esporte trouxa. Ele sorriu assim que viu a namorada saindo da estação.

‘Já estava pensando que tinham desistido da viagem’ Josh falou abraçando Evie

‘Nunca’ ela o beijou ‘Não agüentaria passar as férias longe de você’

‘Parem com essa agarração e me respeitem’ Max estendeu a mão para Josh e eles se abraçaram em cumprimento, rindo

‘Vamos, minha mãe e Paul estão nos esperando para irmos para Venice Beach’

‘Que novidade é essa, Josh?’ Max olhava o carro animado ‘É seu??’

‘Já fiz 16 anos, esqueceu? Agora posso dirigir, ganhei de aniversário’

‘Ah, essas férias vão ser boas!’ Max falou animado entrando no carro.

Evie apenas revirou os olhos olhando os dois parecendo duas crianças ‘Essas vão ser longas férias’

******************

'Evie, Max!’ Margo, a mãe de Josh, foi ao encontro dos recém-chegados e os abraçou

‘Oi Sra. Brenner! Como estão as coisas por aqui?’ Evie perguntou a cumprimentando

‘Estão ótimas, adoro a Califórnia. E o seu pai e a Evelyn, como estão? E o Dimitri?’

‘Estão ótimos também, pediram desculpas por não poderem vir, mas já tinham programado a viagem para a Grécia’

‘Margo, continue a conversa com a Evie no carro, não quero pegar congestionamento!’ O padrasto de Josh, Paul, parou ao lado da esposa e depois de cumprimentar Evie e Max, entrou no carro.

‘Mamãe, vocês continuam a conversa lá. Eles vão comigo no meu carro’ Josh se encaminhou para o jipe dele e os dois o seguiram.

Minutos depois de entrarem nos carros eles já estavam na estrada. A casa de Josh ficava no centro de Los Angeles, mas seu padrasto possuía uma casa de praia em Venice Beach e eles passariam as férias de verão nela esse ano. Seu pai era amigo de infância da mãe de Josh e as famílias eram muito amigas. Foi por se conhecerem desde bebês que Evie e Josh começaram a namorar aos 13 anos.

Os dois carros pararam no píer da cidade antes de chegarem na casa. Paul queria almoçar na beira da praia e Max agradeceu a parada, pois estava com fome. Sem vontade de almoçar, Evie resolveu dar um passeio pelo píer. Josh se ofereceu para ir com ela, mas ela preferiu andar sozinha. Estava com saudades do lugar, queria sentir a brisa do mar no rosto outra vez e não queria companhia para isso.

Evie sentou-se em um dos diversos bancos do píer e encarava o mar, aquela sensação de paz e tranqüilidade a invadindo. Sua vida não poderia estar melhor: sua avó não apresentara mais sinais de estar doente, sua família estava em perfeita harmonia na intenção de não perturbá-la, ela tinha amigos com quem podia contar sempre, era uma excelente aluna e tinha um namorado que não media esforços para agradá-la. O que mais ela poderia querer?

Uma bola de basquete caiu nos seus pés e a tirou do transe antes que pudesse responder a sua própria pergunta. Um menino loiro que aparentava ter no máximo 6 anos correu até ela e a apanhou. Evie sorriu para ele quando ele a encarou, e corando um pouco, o menino retribuiu o sorriso.

‘Ei Connor!’ Um garoto mais velho que usava uma camisa dos Los Angeles Lakers acenava do meio da quadra de basquete ‘Deixa a menina em paz e traz a bola!’

‘Já to indo! Tchau’ o menino chamado Connor acenou sorridente e correu

Evie não conseguiu mais desviar a atenção da quadra. Seus olhos acompanhavam o movimento dos garotos, que pela aparência pareciam ser irmãos. O mais velho aparentava ter a sua idade, 16 anos. Ela perdeu a noção do tempo em que ficou observando os irmãos brincando, pois enquanto os observava, tudo a sua volta estava mudo, nem mesmo o barulho das ondas ela podia ouvir. O único som que chegava aos seus ouvidos era dos garotos rindo, enquanto o mais velho driblava o pequeno e fazia cestas, sem deixar o que se chamava Connor pegar a bola. Evie notou também que os dois eram observados atentamente por uma senhora de aparência rígida. Ela usava óculos presos ao pescoço por uma corrente e não parava de fazer anotações em uma prancheta. Ela não parecia estar achando mesma graça de Evie na brincadeira dos irmãos.

‘Ei, por onde andou?’ Evie se assustou com a abordagem repentina e viu que era Josh ‘Estávamos procurando por você, já estamos indo para a casa’

‘Desculpe, me distrai e esqueci de voltar’ ele sorriu e estendeu a mão, ela não a segurou ‘Pode ir, eu já vou’

Josh olhou rápido na direção que ela olhava e saiu andando pelo píer, deixando-a lá como havia pedido. Evie ainda tinha a atenção nos irmãos, mas agora não era mais pela brincadeira deles. A mulher da prancheta conversava algo com o mais velho, que abraçava o menor. Não era possível ouvir de onde esta estava sentada, mas o assunto parecia ser sério. Passado um tempo a mulher puxou o mais novo e entrou em um carro com ele, deixando o outro sozinho. Evie continuou observando ele caminhar em sua direção, aparentando estar muito irritado.

‘O que está olhando?’ O garoto falou passando por Evie, notando que ela os observava

Evie acompanhou com o olhar ele atravessar a rua e olhar para ela, sem prestar atenção aonde ia, e de repente tudo que ela estivera pensando antes daquele segundo parecia ter se evaporado de sua mente, ela não conseguia lembrar de nada. Apesar de ter sido rude, ela dificilmente esqueceria o rosto daquele garoto e sua expressão ao se despedir do irmão.

‘Como eu estou mamãe?’

‘Como a princesinha que você é, meu amor’ A mulher ajeitou o laço no cabelo da filha de 9 anos e a menina sorriu

‘E eu, mamãe?’ O garotinho de 9 anos parado ao lado da menina olhou para a mãe sorridente

‘Meu homenzinho está lindo, como sempre’ Ela se curvou para beijar a testa do menino e ajeitou a gravata de seu terno ‘Agora não esqueçam o que eu falei antes de sairmos de casa: nada de bagunça, e não corram pela casa. Vocês sabem que o vovô não gosta’

‘Ainda é preciso relembrá-los de como se portar na casa de nossos pais todas às vezes, Eva?’ Um homem alto, moreno e de cabelos e olhos escuros parou ao lado deles na porta. Ele vinha de braços dados com uma mulher de cabelos escuros e olhos azuis, e com eles tinham duas crianças também com 9 anos, mas de pele muito branca e cabelos muito pretos ‘Só foi necessário falar uma única vez com Dario e Hanna’ ele indicou as crianças com a cabeça e voltou a encarar a irmã ‘Nunca me deram trabalho’

‘Nunca é demais lembrar, Ivo’ A mulher respondeu com a voz calma ‘Você, mais do que ninguém, deveria saber disso. Mesmo papai tendo que lembrá-lo todas as vezes que não era certo fazer xixi na cama, você ainda insistia em não ir ao banheiro’

‘Por Merlin, será que estou presenciando mais uma discussão, ou cheguei a tempo de impedi-la?’ Um homem idêntico aos dois irmãos parou ao lado deles, mas que aparentava ser o mais velho. Ele segurava a mão de uma criança com cada uma das mãos. Andrei, o mais velho, tinha 14 anos e ia começar o 4º ano em Durmstrang, e Pilar, com 12 anos, ia cursar o 2º ano em Setembro. Apesar da aparência séria dos dois, eles sorriram para os primos quando chegaram ‘Será que o tempo não acabou com as divergências entre vocês dois? Seus filhos estão aqui, poupe-os disso’

‘Tem razão, Nikolai, não vale à pena discutir outra vez’ Eva sorriu e beijou o irmão e os sobrinhos antes da porta abrir e a governanta da casa recebê-los com um sorriso ‘Mamãe está nos esperando, e provavelmente somos os últimos’

Sem dizer mais nada, todos entraram na mansão. O lugar já estava cheio, o barulho das animadas conversas podia ser ouvido até mesmo do lado de fora. Era a comemoração do 52º aniversário da matriarca da família, e como todo ano, tinha-se a impressão que toda a Espanha estava presente na mansão. As crianças logo de distanciaram dos pais à procura dos primos que já se encontravam na casa e depois de cumprimentar a mãe pela festa, Eva se viu cercada por duas mulheres parecidíssimas com ela. Suas irmãs mais novas, Madalena e Sofia.

‘E então, Eva’ Madalena, a mais velha das duas, segurou o braço da irmã ‘Sozinha outra vez?’

‘Ora Madalena, deixe sua irmã em paz!’ Evangeline protestou ao que parecia ser uma cobrança freqüente

‘Mas mamãe, Eva é muito nova, não pode ficar sozinha com duas crianças em casa!’ Sofia tomou partida da irmã mais velha ‘Ela precisa de um namorado!’

‘Na verdade...’ Eva começou a falar, mas parou para rir das expressões esperançosas das irmãs, e também da mãe, antes de continuar ‘Não estou sozinha já tem algum tempo...’

‘Obrigado Senhor, por atender as minhas preces’ Madalena ergueu os braços e Eva puxou-os de volta, olhando para as pessoas que as encaravam ‘Então quando vamos conhecê-lo? Por que não trouxe hoje?’

‘Fiquei com pena, não achei apropriado apresentar meu potencial futuro marido em uma reunião com o clã inteiro presente’

‘Ouviu isso mamãe?’ Sofia bateu palma animada e se virou para a mãe ‘Eva está falando em se casar!’

‘Sim, ainda não estou surda, Sofia’ Evangeline parecia surpresa, mas feliz ‘Quando pretende nos apresentá-lo, Eva?

‘Essa semana ainda, mas vou combinar um almoço somente com vocês três. Quero que conheçam o Tony antes do papai’

‘Sabia decisão. E por falar nele...’ Madalena puxou uma taça de vinho do garçom mais próximo e seu pai parou ao seu lado muito animado

‘Por favor, Enrique!’ Ele fez sinal para o fotografo que circulava por perto e o rapaz se adiantou ‘Quero uma foto minha com a minha esposa e as três mais lindas mulheres da Espanha! Que, modéstia a parte, são todas milhas filhas’

‘Sim senhor’

‘Papai é muito modesto, realmente!’ Sofia brincou e todos riram

Andrei abraçou as três filhas muito sorridente e as três ladearam a ele e a mãe, para que o fotografo pudesse tirar a foto pedida.


~*~*~*~*~

‘Evie? Está ai?’

Sofia entrou no escritório escuro de seu pai procurando pela sobrinha, mas não foi preciso uma resposta para que ela soubesse que havia a encontrado. Evie estava sentada calada na cadeira do avô, e segurava algo nas mãos, para onde olhava fixamente.

‘O que está fazendo aqui sozinha, querida?’ A mulher se aproximou e notou que a única luz acesa era a da luminária perto da mesa

‘Queria fugir da aglomeração lá fora’ Evie respondeu dando de ombros, ainda sem tirar os olhos do que agora sua tia reconhecia como um porta-retrato ‘Essa foto foi tirada no ultimo aniversário da vovó que mamãe participou, não é?

‘Sim, foi no aniversário de 52 anos da mamãe’ Sofia olhou para a foto e sentiu vontade de chorar, mas se controlou ‘Foi a ultima foto que papai tirou com Eva, por isso a mantém em cima da mesa’

‘Ela morreu 10 dias depois, acho que foi as ultimas fotos da mamãe foram todas tiradas nessa festa’ Evie tinha a voz triste enquanto falava ‘Ela faz muita falta’

‘Sua mãe faz muita falta para mim, então posso imaginar o quanto não faz para você e Max’ Sofia acariciava os cabelos da sobrinha e também não tirava os olhos da foto ‘Sabia que ela estava pensando em se casar?’

‘Com o Tony? Sim’ Evie olhou para tia e sorriu de leve ‘Mas não conhecíamos ele, mamãe tinha medo de confundir a gente e só queria que ele nos conhecesse depois de vocês. Ele morreu junto com ela, não?’

‘Sim... Conhecemos ele naquela semana, sua mãe o levou para almoçar comigo, Madalena e a mamãe, queria que déssemos nossa opinião’

‘Sinto mais falta dela quando tem essas festas de família’ Evie reassumiu o tom de voz desanimado ‘É difícil ver todo mundo chegar com os pais, e Max e eu sempre sozinhos. Sei que papai vem sempre que pode, mas não é a mesma coisa’

‘Queria poder voltar no tempo para que sua mãe estivesse aqui, mas infelizmente não posso’ Ela beijou a testa da sobrinha e levantou da cadeira ‘Vamos lá para fora um pouco, distrair a cabeça. Seu pai já está ai, e está procurando por você’

Sofia estendeu a mão para Evie e ela acompanhou a tia para fora do escritório. A mansão já estava cheia para a comemoração do 59º aniversário da matriarca. As festas eram sempre no mesmo formato, todo aquele ritual era repetido a cada ano, com as mesmas pessoas presentes e sempre as mesmas conversas. A garota localizou seu pai parado conversando com seu tio Heinrich e se aproximou.

‘Ah, vejo que Sofia encontrou você’ Heinrich abraçou a sobrinha que ainda não tinha visto desde que chegara e apertou a mão de Josef ‘Josef, não desapareça, quero lhe mostrar uma coisa, volto daqui a pouco’

‘Não vou sair daqui’ Josef olhou para a filha e sorriu ‘E você, onde estava? Cheguei há meia hora e só encontrei seu irmão’

‘Estava com dor de cabeça e fui descansar um pouco no escritório do vovô’ Mentiu. Não queria que ele soubesse que estava pensando na mãe ‘Evelyn e Dimitri não vieram?’

‘Evelyn precisou trabalhar, de ultima hora, já estava até pronta’ Ele lamentou a ausência da esposa e olhou ao redor ‘Mas Dimitri está aqui, em algum lugar’

Evie olhou para o lado tentando encontrar o irmão, e quase foi derrubada por Santiago e Letícia, que passaram como dois furacões ao seu lado. Os primos desapareceram no meio dos convidados e Josef esticou o braço depressa, detendo a 3ª pessoa que passava correndo.

‘DIMITRI!’

O garoto de 11 anos foi puxado para trás com a força de Josef e não caiu apenas porque seu pai o segurava pela manga do paletó. Ele olhou assustado para ele. Seus rosto estava vermelho e suado, era óbvio que estava correndo há bastante tempo.

‘O que lhe falei sobre correr dentro da casa?’ O garoto encolheu os ombros e não respondeu ‘Os netos de Andrei podem quebrar coisas aqui, mas você não’

‘Mas pai, eu-’

‘Não quero desculpas. Se pegar você correndo outra vez, vamos nos entender em casa’

‘Desculpa, não vou mais correr’

O garoto sorriu para Evie e saiu andando para fora da mansão, para onde Santiago e Letícia seguiram correndo segundos antes. Evie olhou para o pai e ia dizer que seu avô não se importava mais com a correria em dias de festa como esse, mas uma 4ª rajada de vento a interrompeu. De relance ela reconheceu a figura de Dario passar apressado por ela, desviando agilmente de um garçom com quem quase colidiu. E se Dario passara correndo, logo uma 5ª pessoa passaria por eles. Josef esticou o braço mais uma vez e deteve o próximo.

‘Maxmillian!’ Dessa vez foram preciso as duas mãos para segurar seu filho de 16 anos ‘Posso saber por que está correndo atrás do seu primo? E não diga que estão brincando de pega-pega, estão velhos demais para isso’

‘Quero quebrar o dedo dele!’ Max respondeu sem cerimônias e Evie se assustou ‘Ele atirou em mim no acampamento, e teve o descaramento de dizer que queria acertar um alce quando passei na frente dele! Mentira, nem tinham alces lá! E tio Ivo ainda defendeu ele!’

Evie olhava do irmão para o pai querendo rir, mas fez um enorme esforço para se controlar. Ela não sabia desse incidente. Dario devia estar com muito medo do que Max pudesse fazer como revide para não se vangloriar do fato.

‘Faça com que sejam dois dedos então’ Ele soltou o braço do filho, que sorriu e continuou correndo atrás do primo

‘Papai!’ Evie olhou para o pai chocada, mas ele riu

‘Dois dedos são pouca coisa, aquele menino merece muito mais’ Ele riu da expressão indignada da filha e quis mudar de assunto ‘Como está a sua avó? Melhorou?’

‘Um pouco’ A garota deu de ombros e olhou para a avó, que conversava animada com algumas de suas amigas ‘Os médicos disseram que ela deve ter esquecido de tomar um remédio ou outro durante o acampamento, nada demais’

‘Evangeline já teve câncer, não pode esquecer de tomar nenhum remédio, ou a doença pode voltar’ Josef falou preocupado ‘Mas ela é forte, vai passar por mais essa’

‘É, vovó é forte, e a doença não vai voltar nunca mais’

Evie abraçou o pai sem tirar os olhos da avó. Estavam todos felizes, e tudo que ela queria era que as coisas continuassem assim.

Someone told me long ago
there's a calm before the storm
I know, it's been comin' for some time

Have You Ever Seen The Rain - Creedence Clearwater


‘One, two, Freddy's coming for you’ Hanna ouviu um barulho vindo do lado de fora da barraca e encarou Helena, gelada

‘Three, four, better lock your door’ Uma segunda voz era ouvida agora, e Helena tentava se livrar as mãos frias de Hanna

‘Five, six, grab your crucifix’ Quando a terceira voz vindo da mata cantou, Hanna derrubou o livro que Helena lia e procurou pela lanterna

‘Seven, eight, gonna stay up late’ a voz estava cada vez mais próxima

‘Nine, ten, never sleep AGAIN!’ Três cabeças invadiram o espaço cantando a ultima palavra aos berros e Hanna saltou para o outro lado, desfazendo a armação da barraca e desmontando-a

‘Argh, DROGA HANNA!’ Helena explodiu em meio às gargalhadas de Evie, Pilar e Marta ‘Não vai aprender nunca que são sempre elas que fazem isso?’ Helena sacudiu a lona e pegou seus livros e mochila, irritada ‘Vou dormir com a minha mãe!’

‘Acho que ela ficou nervosa...’ Pilar falou debochada, sentando no chão ainda rindo

‘Imagina, impressão sua’ Evie sentou ao lado da prima também rindo muito ‘Pra onde a Hanna foi?’

‘Se descobrirem me contem depois!’ Marta levantou do chão depressa ‘Vovó vindo aí, fui!’

As outras duas saltaram do chão ao mesmo tempo e em questão de segundos já estava cada uma em sua barraca, escondidas dentro dos sacos de dormir. Quando Evangeline chegou ao local onde ouvira a gritaria, só encontrara sua neta Hanna embolada sob a lona, se recusando a sair enquanto sua mãe não permitisse que ela dormisse em sua barraca.

~*~*~*~*~

O incidente da barraca foi motivo de muita bronca da avó. Era inegável que as autoras do trote eram Evie, Pilar e Marta, e mesmo com as declarações taxativas de Helena em afirmar que Hanna estava imaginando coisas, a outra acusara as três, e não restaram duvidas.

Para escapar de mais sermão, as três elegeram um novo passatempo favorito para os dias que ainda restavam: pescar. Esse deveria ser todo o propósito do acampamento, mas até o momento em que elas decidiram preparar as varas, anzóis e iscas, ninguém tinha mostrado qualquer sinal de que iriam utilizar todo aquele equipamento. Peso inútil, como bem disse Helena antes mesmo de saírem de casa, há quase duas semanas atrás.

‘E então Evie?’ Pilar falou depois de muito tempo em silêncio no meio do lago ‘Quando você vai terminar com aquele seu namorado mala?’

‘Como é que é?’ Evie falou surpresa com a pergunta direta da prima. Marta continuava calada, mas olhava de uma para outra com interesse ‘Está se perguntando a mesma coisa, Marta?’

‘É, bem... Não a mesma pergunta, mas não posso discordar quando Pilar o chamou de mala’

‘Todos pensam assim ou só vocês?’ Ela estava realmente surpresa ‘Porque o Josh não é mala!’

‘Desculpa Evie, mas ele é chato sim’ Pilar nem ao menos parecia estar pensando duas vezes antes de falar ‘Ele não faz a menor questão de ser simpático com a gente. Acha o que? Que só porque já conquistou seu pai pode esnobar o resto da família? Pois ele que fique sabendo que não vai arrumar nada assim, a gente seqüestra você no dia do casamento!’

Marta caiu na gargalhada e os poucos peixes que circulavam ao redor do barco dispersaram quando seu anzol sacudiu dentro d’água, em conseqüência dos risos. Pilar acabou rindo também, mas Evie se mantinha séria.

‘Vocês não o conhecem direito, por isso o acham um pouco chato’ Ela não estava muito convicta do que dizia, mas ainda assim sentia que precisava se explicar ‘Ele só é sério’

‘Bom, quem namora ele é você, e não a gente’ Marta achou que precisava dizer alguma coisa a favor da prima ‘Mas se ele fosse um pouco mais simpático, seria mais legal’ ela deu de ombros e encarou a água antes de continuar ‘Afinal, se você ama esse menino e pretende casar com ele, ele vai ter que conviver com a gente’

Evie não respondeu e passou a encarar a água também. Pela segunda vez em poucos meses ela se via pega pela mesma questão de que se o que sentia por Josh era mesmo amor, ou ela tinha apenas se acostumado a tudo, e não passava de carinho. As meninas pareceram perceber o que ela pensava, e Pilar rapidamente mudou de assunto quando um dos peixes mordeu a isca, comemorando animada. Aquele foi o único peixe pescado em duas semanas.

~*~*~*~*~

‘Mãe, divide direito isso, é o único peixe!’ Marta falou sentando ao lado da mãe

‘Calma, eu sei’ ela riu e começou a cortar o peixe em postas ‘Mas ainda bem que eu sabia que ninguém ia pescar aqui, e trouxe comida. Do contrario já teríamos morrido de fome’

‘Você é brilhante, tia Madalena!’ Pilar brincou e todas riram

Faltavam apenas três dias para as duas semanas de acampamento chegar ao fim e as mulheres Stanislav pareciam ter chegado a um ponto de entendimento. Não estava tendo mais brigas, sustos e acusações. Estavam todas na mais perfeita ordem, mesmo que isso significasse que Evie não dirigia a palavra a Hanna, e que Helena simplesmente não emitia qualquer tipo de som, nem mesmo com sua mãe.

Os métodos adquiridos para se chegar a uma trégua não importavam. O que importava de verdade era que todas estavam em paz. E a trégua significava que todas se reuniram em volta de uma fogueira para assar o único peixe que foi pescado em todo o acampamento, e falar muitas bobagens. Evie sabia que quando as tias se juntavam para bater papo, longe das vistas do patriarca da família, os assuntos eram sempre impróprio para menores. Mas hoje, pela primeira vez, Evie não conseguia se concentrar na conversa. Sua cabeça ainda estava na conversa no barco, naquele mesmo dia à tarde.

‘Ah, mas a Evie não pode ser virgem ainda!’ Ao ouvir seu nome ser pronunciado por sua tia Sofia ela saiu do transe e olhou para as outras ‘Há quanto tempo você namora esse menino, minha querida? Dois anos?’ Evie confirmou com a cabeça ‘Então, estou certa, não?’

Um silêncio quase sepulcral se abateu sobre a roda, e a primeira coisa que Evie fez, entre corar e responder a pergunta, foi procurar a avó com o olhar. Evie viu a avó expulsar Luisa para longe da roda, e Letícia por tabela, antes de rir.

‘Não precisa me olhar com receio, acho que Sofia tem razão...’ Evangeline falou divertida e todas riram ‘Eu perdi minha virgindade com seu avô na sua idade, ele era bem apressadinho’

‘Ai mamãe, podíamos ter ido dormir sem essa informação!’ Madalena falou parecendo aflita ao imaginar demais e todo mundo riu ‘Mas então Evie? Estamos certas ou não?’

‘Sim, há alguns meses, nas festas de fim de ano’ Ela respondeu sem graça, e as gargalhadas das tias não ajudavam nem um pouco

‘Ho Ho Ho, Feliz Natal, não?’ Madalena brincou e até mesmo Helena riu

‘Vocês estão deixando a menina sem graça’ Sonia, mãe de Mario e Diego falou, tentando amenizar

‘Ora Sonia, não precisa tentar ser a apaziguadora, Evie é uma mulher Stanislav, já devia estar acostumada com as espetadas’ Sofia falou gargalhando, o vinho começando a fazer efeito

‘E a Helena? Será que devemos fazer a mesma pergunta?’ Madalena provocou Sofia e Helena apenas olhou a tia pelo canto do olho, sem dizer nada

‘Ok vamos mudar de assunto antes que recomecem as brigas!’ Evangeline falou se pondo de pé ‘Que tal se-’

A frase não foi completada. Assim que ficou de pé, Evangeline pôs a mão na cabeça sentindo uma tontura e caiu desmaiada. Todas largaram o que tinham nas mãos e correram para socorrê-la, mas nada conseguiu acordá-la. Sua respiração ainda estava lá, embora fraca, e Madalena como a mais velha pôs um fim ao acampamento. Era hora de voltar para casa, e o mais depressa possível.

‘Muito bem meninas, conhecem as regras’ Evangeline passou animada entre as netas, carregando sua mochila ‘Dividam-se em duplas, vamos começar a montar as barracas, e nada de magia!’

Tão logo sua avó passou para o outro lado da beira do lago, Evie com um único salto alcançou a prima Pilar. A garota morena de cabelos pretos e compridos, olhos castanho claro e muito alta levou um susto com a aparição repentina da prima, deixando cair a mochila.

‘Pilar, por favor, por favor, por favor, posso dividir a barraca com você?’ Evie quase se atirou no chão para soar o mais convincente que podia

‘Claro que pode, mas por que esse desespero todo??’ Pilar riu, recolhendo a mochila do chão

‘Porque se eu não dividir com você, vou ter que ficar com a Hanna, e você com a Helena’ ela falou contando as primas ‘Ou eu com a Helena e você com a Hanna’

‘Merlin, entra logo nessa barraca, não quero dividir ela por duas semanas com nenhuma das duas!’ Agora era Pilar que parecia desesperada ‘Mas tem uma condição: nada de me acordar quando sair cedo para correr com a tia Madalena! Não sou adepta a esses exercícios de madrugada que vocês fazem!’

‘Obrigada priminha, não vou acordar você quando sair cedo’ Evie atirou a mochila dentro da barraca animada

‘Quem fica com quem então?’ Pilar também colocou a sua mochila dentro da barraca e olhou em volta do lugar confusa

‘Bom... Hanna divide com a Helena, o que é perfeito, já que a Helena não fala, então elas não vão se matar’ as duas riram ‘E a Marta divide com a Letícia’

‘E a Luisa? Vai dormir com quem?’

‘A Luisa vai dividir a barraca com a vovó!’ Evangeline estava de volta e vinha carregando a neta de 8 anos no colo ‘Assim ninguém faz nenhuma maldade com ela, como dar sustos’

‘Ora vovó, nós nunca fazemos esse tipo de coisa!’ Pilar piscou para Evie e a avó passou pelas duas balançando a cabeça

‘Já tem alguma coisa em mente, sua doente?’ Evie olhou para Pilar rindo

‘Sempre, Evie... Sempre!’ Pilar tinha um sorriso perigoso no rosto enquanto falava

As coisas começavam a mudar de figura, e o acampamento agora não parecia a pior idéia do mundo...

~*~*~*~*~

‘Pilar? Pode me ouvir?’ Ela murmurou alguma coisa e sua cabeça caiu para o lado, fazendo-a roncar baixo. Evie riu: hoje sua prima perdera a aposta e já estava dormindo.

Já era a 4ª noite de acampamento, e todos os dias depois que cada uma se recolhia em sua barraca, Marta escapava para a de Evie e Pilar e as três perdiam a noção do tempo conversando e tramando brincadeiras contra Hanna. E toda vez que Marta voltava para sua barraca, Evie e Pilar travavam uma batalha para ver quem resistia mais tempo acordada. Evie perdia sempre, exceto por essa noite. Ela se aconchegou dentro do saco de dormir e encostou a cabeça no travesseiro, suspirando. Fechando os olhos, ela sentiu a escuridão da barraca a cercar, seus músculos relaxando...

Ela podia ouvir a voz de Ella a chamando, em pânico. Seus olhos abriram depressa e ela se moveu através do quarto iluminado do hospital. Ella não estava na cama, como ela pensou que estaria; os lençóis estavam embolados, com sangue sobre eles. Evie não queria saber de onde vinha o sangue. Ela só conseguia ouvir a voz de sua filha, chamando seu nome em desespero, os gritos e o choro começando a cortar a respiração da menina. Ela não conseguia ver direito o que estava acontecendo. Quando Ella chorava com força, ela ficava sem ar, ela não conseguia respirar entre os soluços e os gritos. Da ultima vez que ela fez isso, Evie teve que sacudi-la até que ela parasse de gritar e começasse a respirar devagar novamente.

Evie saiu do quarto e encarou o corredor também muito iluminado. A porta por onde ela estava passando era a única à vista, o resto das paredes estavam lisas, sem portas ou janelas. Evie sentiu uma onda de pânico a invadir, enquanto os gritos de Ella aumentavam a intensidade. Aonde ela poderia estar? Evie começou a correr pelos corredores, um por um, sem ver portas, a voz de Ella cada vez mais perto. Ela ouviu um ultimo grito antes de começar a chorar e cair de joelhos no chão, sua respiração acelerando com os soluços. Apoiou as mãos no chão, sentido o piso gelado com os dedos, e sentindo-se desesperada quando o choro de Ella foi substituído por pequenos gritos, interrompidos constantemente pela respiração alterada da menina. Evie sentiu seu coração apertar, como se alguém estivesse a machucando, não sua filha. Começando a gritar também, ela levantou e olhou em volta, vendo as paredes brancas ao seu redor e entrando em pânico novamente. Ela estava usando um avental de hospital, e todo aquele branco ao redor estava deixando ela louca. Evie encostou a testa na parede, querendo sentir o cimento gelado contra sua pele.

‘Por favor, Merlin, por favor. Devolva minha filha. Mostre-me onde a minha menina está’ Disse em voz baixa. Ela repetiu a frase diversas vezes, como um mantra, sentindo que estava se acalmando. Ela ainda podia ouvir os gritos de Ella, mas eles não eram mais tão fortes. Uma sonolência começava a tomar conta dela, e ela estava a ponto de se deixar cair no chão quando ouviu a voz de sua filha bem perto do ouvido. Virando para o lado, ela viu uma porta na parede na sua frente. O grito estava vindo daquela porta, e Evie correu para ela, abrindo e parando na entrada, vendo a cena que acontecia no quarto.

Era um quarto de menina, repleto de brinquedos, uma cama de madeira e paredes cor de rosa com muitos girassóis desenhados nela. Na parede de frente para a porta, estava uma janela, uma imensa janela que tinha a vista para um campo. Evie reconheceu o quarto. Era o quarto que ninguém tinha autorização de entrar, na casa onde passou sua infância, o mesmo quarto que ficou fechado tantos anos.

Mas a cena acontecendo nele era muito mais perturbadora. Ella estava encurralada no canto, seu rosto vermelho e molhado por causa do choro. Ela tinha marcas de sangue em volta do pescoço e do rosto, marcas que indicavam estrangulamento, o que fez Evie sentir muito ódio. A menina estava segurando uma varinha nas mãos, apontando para Josh, que estava parado no meio do quarto com o cinto da calça nas mãos. Quando Evie seguiu os olhos até sua mão, ela viu que ela estava coberta de sangue. Olhando para as marcas de sangue no rosto de Ella, ela viu o que Josh havia feito com a menina e seu coração congelou. Ele não poderia ter feito isso, não com sua filha. Ela estava a ponto de andar até ele quando ele virou e ela viu seu rosto. Não era o Josh. Ela seu pai.

Os olhos de Evie se abriram alarmados, e ela levou as mãos até o rosto para senti-lo molhado de lágrimas. Foi só então que ela ouviu que estavam chamando-a do lado de fora. Abrindo a entrada da barraca, ela sorriu quando viu que era sua tia Madalena. Ela não poderia ter aparecido em melhor hora.

‘Está tudo bem, querida?’ Madalena olhou espantada quando Evie apareceu ‘Está pálida!’

‘Está tudo bem, só acordei assustada’ Evie estava gelada ‘Tia Madalena, quem é Ella?’

‘Ella?’ Madalena se alarmou ao ouvir o nome, mas Evie não percebeu ‘Por que a pergunta?’

‘Nada demais, só um sonho esquisito e esse nome sempre aparece’ Evie deu de ombros sem se importar com o conteúdo do sonho

‘Não conheço nenhuma Ella, desculpe’ ela desviou o olhar da sobrinha, mas tornou a encará-la, pensativa ‘Com que freqüência tem esses sonhos?’

‘Não sei, de vez em quando’ ela deu de ombros outra vez ‘Não é sempre, mas toda vez que sonho com alguma criança, ela tem esse nome. Por que?’

‘Por nada, só fiquei curiosa, você disse que não era a primeira vez’

‘É porque é estranho... Ela é igual a mim! E dessa vez meu pai também estava no sonho’

‘Se ela era você, quem você era no sonho?’ Madalena começava a parecer interessada

‘Ela não era eu, só era parecida comigo quando criança’ Evie pensou um pouco ‘E eu era eu, ora. Não me vi no sonho, assisti a ele. Não sei explicar, eu vi acontecer, não podia me ver, não tinham espelhos. Isso significa alguma coisa??’

‘Não, tenho certeza que não, não precisa se preocupar’ Madalena voltou a parecer normal para acalmar a sobrinha ‘São apenas sonhos, nada mais’

‘É... Talvez eu goste do nome e não saiba’ Evie falou rindo

‘É, talvez seja isso... Vamos correr na floresta ou não?’

Evie sorriu e concordou com a cabeça, fechando a barraca e calçando o tênis, esquecendo no mesmo instante que havia acordado assustada com o que viu enquanto dormia.

domingo, 1 de julho de 2007 08:53 Postado por Evie Stanislav 0 comentários
O último quarto da república Avalon estava o que poderia ser chamado de caos. Móveis fora do lugar, roupas espalhadas, pacotes de biscoito abertos em cima da mesa e ao pé da cama de Evie, duas malas. Era o último dia na escola e começavam as tão esperadas férias de verão. O 5º ano terminava ali, junto com os N.O.M.s, e Evie não queria pensar em suas notas durante as férias. ‘Me preocuparei com elas quando voltar pra casa’ ela pensou enquanto fechava a última mala, jogando ao lado das outras duas já prontas.

Ela estava indo para a casa de veraneio dos avôs, em Andaluzia, Espanha. Seu irmão Max também ia, mas Dimitri ficaria na Bulgária para viajar com os pais, algo que Evie lamentava muito. Mesmo que a viagem para a Espanha fosse para comemorar o aniversário de sua avó, ela queria que ele fosse. Mas fora Dimitri que escolhera seguir com os pais para a Grécia, então nada que Evie dissesse o convenceria do contrário.

‘Pronto, terminei!’ Evie se largou na cama exausta

‘Não acha que está levando roupa demais?’ Milla perguntou olhando para sua única mala em sua cama. Nina observou também, revirando os olhos

‘Claro que não! Preciso ter opções de roupa ou enlouqueço!’

‘Ah, a Evie tem razão!’ Vina sentou na cama cansada depois do esforço para fechar sua 2ª mala ‘Precisamos ter opções, não dá pra ser uma só pra cada dia!’

O apito do trem soou pela 3ª vez, o que indicava que sairia em meia hora, sem atrasos. As quatro fizeram as bagagens levitarem e saíram apressadas do quarto, se acomodando em uma das cabines vazias. Evie lançou um ultimo olhar para o castelo e os muros que o cercavam, sorrindo. Era oficialmente o inicio das férias.

~*~*~*~*~

‘Se puder andar mais devagar eu espero’ Max resmungava parado a quase dois metros de distancia da irmã

‘Se puder ser mais cavalheiro e me ajudar com as malas eu agradeço’ Evie retrucou, cruzando os braços no meio do saguão e soltando as malas no chão

Max voltou contrariado a apanhou as duas malas que ela soltara, saindo outra vez na frente e largando Evie para trás. Eles haviam chegado ao aeroporto de Sofia e deveriam pegar um vôo direto para a Espanha, mas ainda nem haviam despachada as malas.

Eles já estavam acostumados ao ritual de viajar sozinhos, seu pai raramente participava das reuniões de família da ex-mulher, indo apenas aos eventos mais importantes. Evie sabia que ele estaria na Espanha no dia da festa de sua avó, e isso bastava para ela.

‘Aqui, nossos lugares são esses dois’ Max acomodou sua mochila no compartimento acima da poltrona e deitou espalhado

‘Que bom que os acentos da primeira classe são espaçosos, assim você não esbarra em mim’ ela provocou o irmão e ele apertou as bochechas dela

‘Me acorde quando chegarmos à Espanha’ Max se enrolou na coberta e virou para o lado, apagando na mesma hora

~*~*~*~*~

‘Ah, até que enfim chegaram!’

Evie ouviu uma voz irritantemente conhecida e revirou os olhos antes mesmo de encontrar sua dona. Hanna e Dario, seus primos de mesma idade que estudavam em Beauxbatons estavam parados no saguão do aeroporto, sentados sobre as bagagens e com caras de poucos amigos. Conhecendo bem os gêmeos como ela e Max conheciam, não era necessário ser vidente para saber o motivo do mau humor: o vôo da Bulgária para a Espanha havia atrasado por quase meia hora, o que significava que eles estavam esperando os dois há algum tempo. E os quatro tinham ordens expressas dos avôs de esperaram uns pelos outros, deveriam sempre chegar juntos quando viajavam sozinhos.

‘Não temos culpa se o vôo atrasou!’ Max foi logo respondendo mal humorado, ele e Dario nunca se entenderam

‘Estamos esperando há mais de uma hora, já íamos embora sem vocês!’ Hanna reclamou impaciente e colocou a bolsa no ombro

‘Sim, claro que iam embora’ Evie riu na cara da prima ‘Como se fossem valentes o suficiente para levarem bronca de graça do vovô. Parem de chorar como dois bebês e vamos embora, estou cansada’

Max e Evie não esperaram os primos terminarem de recolher as malas e já foram chamando um táxi, se acomodando nele enquanto os dois vinham correndo para alcançá-los.

A viagem até Andaluzia pareceu durar uma eternidade, pois o silencio no táxi era torturante. Ninguém fazia a menor questão de manter uma conversa, nenhum deles engolia o fato de terem a mesma idade e com isso, estarem presos uns aos outros. Era uma espécie de sistema de proteção mútua que o avô deles impôs aos filhos e netos: aqueles com idades iguais ou aproximadas deveriam sempre estar juntos, ajudando e protegendo um ao outro. A regra parecia se aplicar muito bem ao resto da família, mas não a eles. Evie considerava Hanna a garota mais esnobe e falsa da face da terra, e Max via em Dario um garoto que não media esforços para conquistar seus objetivos, mesmo que isso significasse pisar em cima de seus próprios pais. Eles definitivamente não viam qualquer possibilidade de um dia se entenderem.

Quando o carro parou em frente à mansão de veraneio dos Stanislav em Andaluzia, Evie foi a primeira a correr para fora do táxi. Seus avôs já estavam parados no portão a espera deles, preocupados com a demora, e sua avó foi a primeira pessoa que ela abraçou. Os outros três desembarcaram com calma e trazendo as bagagens, entraram na casa. Todos os primos e tios já estavam reunidos na sala de estar e os quatro tomaram seus lugares para ouvir o que seus avôs tinham a dizer.

‘Bem, agora que estamos todos aqui’ ela olhou para os quatro últimos e esboçou um sorriso ‘podemos começar a contar as novidades’

‘Evangeline e eu achamos que passamos pouco tempo com todos vocês, e com a intenção de interagirmos mais, eu levarei meus filhos, genros e netos para um acampamento de caça, no Parque Natural de Cazorla!’ Andrei falou animado e os garotos se agitaram ao som da palavra “caça”

‘E eu vou levar minhas filhas, noras e netas ao mesmo parque, mas na outra extremidade, para um acampamento mais calmo, de pesca’ Evangeline falou no mesmo tom animado e suas filhas, noras e algumas netas pareceram animadas. Apenas Evie, Hanna e Helena não esboçaram qualquer tipo de empolgação.

Andrei deu ordem para que cada um fosse fazer uma mochila básica para duas semanas e comunicou que todos partiriam em duas horas. A sala se esvaziou em questão de segundos, com gente correndo para todos os lados até seus cômodos para começar a preparar as coisas. Mas Evie não correu, e subiu as escadas até seu quarto sem pressa alguma. Duas semanas de acampamento com Hanna na mesma barraca? Essas férias prometiam ser um desastre...