terça-feira, 10 de julho de 2007 06:38 Postado por Evie Stanislav
Someone told me long ago
there's a calm before the storm
I know, it's been comin' for some time

Have You Ever Seen The Rain - Creedence Clearwater


‘One, two, Freddy's coming for you’ Hanna ouviu um barulho vindo do lado de fora da barraca e encarou Helena, gelada

‘Three, four, better lock your door’ Uma segunda voz era ouvida agora, e Helena tentava se livrar as mãos frias de Hanna

‘Five, six, grab your crucifix’ Quando a terceira voz vindo da mata cantou, Hanna derrubou o livro que Helena lia e procurou pela lanterna

‘Seven, eight, gonna stay up late’ a voz estava cada vez mais próxima

‘Nine, ten, never sleep AGAIN!’ Três cabeças invadiram o espaço cantando a ultima palavra aos berros e Hanna saltou para o outro lado, desfazendo a armação da barraca e desmontando-a

‘Argh, DROGA HANNA!’ Helena explodiu em meio às gargalhadas de Evie, Pilar e Marta ‘Não vai aprender nunca que são sempre elas que fazem isso?’ Helena sacudiu a lona e pegou seus livros e mochila, irritada ‘Vou dormir com a minha mãe!’

‘Acho que ela ficou nervosa...’ Pilar falou debochada, sentando no chão ainda rindo

‘Imagina, impressão sua’ Evie sentou ao lado da prima também rindo muito ‘Pra onde a Hanna foi?’

‘Se descobrirem me contem depois!’ Marta levantou do chão depressa ‘Vovó vindo aí, fui!’

As outras duas saltaram do chão ao mesmo tempo e em questão de segundos já estava cada uma em sua barraca, escondidas dentro dos sacos de dormir. Quando Evangeline chegou ao local onde ouvira a gritaria, só encontrara sua neta Hanna embolada sob a lona, se recusando a sair enquanto sua mãe não permitisse que ela dormisse em sua barraca.

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O incidente da barraca foi motivo de muita bronca da avó. Era inegável que as autoras do trote eram Evie, Pilar e Marta, e mesmo com as declarações taxativas de Helena em afirmar que Hanna estava imaginando coisas, a outra acusara as três, e não restaram duvidas.

Para escapar de mais sermão, as três elegeram um novo passatempo favorito para os dias que ainda restavam: pescar. Esse deveria ser todo o propósito do acampamento, mas até o momento em que elas decidiram preparar as varas, anzóis e iscas, ninguém tinha mostrado qualquer sinal de que iriam utilizar todo aquele equipamento. Peso inútil, como bem disse Helena antes mesmo de saírem de casa, há quase duas semanas atrás.

‘E então Evie?’ Pilar falou depois de muito tempo em silêncio no meio do lago ‘Quando você vai terminar com aquele seu namorado mala?’

‘Como é que é?’ Evie falou surpresa com a pergunta direta da prima. Marta continuava calada, mas olhava de uma para outra com interesse ‘Está se perguntando a mesma coisa, Marta?’

‘É, bem... Não a mesma pergunta, mas não posso discordar quando Pilar o chamou de mala’

‘Todos pensam assim ou só vocês?’ Ela estava realmente surpresa ‘Porque o Josh não é mala!’

‘Desculpa Evie, mas ele é chato sim’ Pilar nem ao menos parecia estar pensando duas vezes antes de falar ‘Ele não faz a menor questão de ser simpático com a gente. Acha o que? Que só porque já conquistou seu pai pode esnobar o resto da família? Pois ele que fique sabendo que não vai arrumar nada assim, a gente seqüestra você no dia do casamento!’

Marta caiu na gargalhada e os poucos peixes que circulavam ao redor do barco dispersaram quando seu anzol sacudiu dentro d’água, em conseqüência dos risos. Pilar acabou rindo também, mas Evie se mantinha séria.

‘Vocês não o conhecem direito, por isso o acham um pouco chato’ Ela não estava muito convicta do que dizia, mas ainda assim sentia que precisava se explicar ‘Ele só é sério’

‘Bom, quem namora ele é você, e não a gente’ Marta achou que precisava dizer alguma coisa a favor da prima ‘Mas se ele fosse um pouco mais simpático, seria mais legal’ ela deu de ombros e encarou a água antes de continuar ‘Afinal, se você ama esse menino e pretende casar com ele, ele vai ter que conviver com a gente’

Evie não respondeu e passou a encarar a água também. Pela segunda vez em poucos meses ela se via pega pela mesma questão de que se o que sentia por Josh era mesmo amor, ou ela tinha apenas se acostumado a tudo, e não passava de carinho. As meninas pareceram perceber o que ela pensava, e Pilar rapidamente mudou de assunto quando um dos peixes mordeu a isca, comemorando animada. Aquele foi o único peixe pescado em duas semanas.

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‘Mãe, divide direito isso, é o único peixe!’ Marta falou sentando ao lado da mãe

‘Calma, eu sei’ ela riu e começou a cortar o peixe em postas ‘Mas ainda bem que eu sabia que ninguém ia pescar aqui, e trouxe comida. Do contrario já teríamos morrido de fome’

‘Você é brilhante, tia Madalena!’ Pilar brincou e todas riram

Faltavam apenas três dias para as duas semanas de acampamento chegar ao fim e as mulheres Stanislav pareciam ter chegado a um ponto de entendimento. Não estava tendo mais brigas, sustos e acusações. Estavam todas na mais perfeita ordem, mesmo que isso significasse que Evie não dirigia a palavra a Hanna, e que Helena simplesmente não emitia qualquer tipo de som, nem mesmo com sua mãe.

Os métodos adquiridos para se chegar a uma trégua não importavam. O que importava de verdade era que todas estavam em paz. E a trégua significava que todas se reuniram em volta de uma fogueira para assar o único peixe que foi pescado em todo o acampamento, e falar muitas bobagens. Evie sabia que quando as tias se juntavam para bater papo, longe das vistas do patriarca da família, os assuntos eram sempre impróprio para menores. Mas hoje, pela primeira vez, Evie não conseguia se concentrar na conversa. Sua cabeça ainda estava na conversa no barco, naquele mesmo dia à tarde.

‘Ah, mas a Evie não pode ser virgem ainda!’ Ao ouvir seu nome ser pronunciado por sua tia Sofia ela saiu do transe e olhou para as outras ‘Há quanto tempo você namora esse menino, minha querida? Dois anos?’ Evie confirmou com a cabeça ‘Então, estou certa, não?’

Um silêncio quase sepulcral se abateu sobre a roda, e a primeira coisa que Evie fez, entre corar e responder a pergunta, foi procurar a avó com o olhar. Evie viu a avó expulsar Luisa para longe da roda, e Letícia por tabela, antes de rir.

‘Não precisa me olhar com receio, acho que Sofia tem razão...’ Evangeline falou divertida e todas riram ‘Eu perdi minha virgindade com seu avô na sua idade, ele era bem apressadinho’

‘Ai mamãe, podíamos ter ido dormir sem essa informação!’ Madalena falou parecendo aflita ao imaginar demais e todo mundo riu ‘Mas então Evie? Estamos certas ou não?’

‘Sim, há alguns meses, nas festas de fim de ano’ Ela respondeu sem graça, e as gargalhadas das tias não ajudavam nem um pouco

‘Ho Ho Ho, Feliz Natal, não?’ Madalena brincou e até mesmo Helena riu

‘Vocês estão deixando a menina sem graça’ Sonia, mãe de Mario e Diego falou, tentando amenizar

‘Ora Sonia, não precisa tentar ser a apaziguadora, Evie é uma mulher Stanislav, já devia estar acostumada com as espetadas’ Sofia falou gargalhando, o vinho começando a fazer efeito

‘E a Helena? Será que devemos fazer a mesma pergunta?’ Madalena provocou Sofia e Helena apenas olhou a tia pelo canto do olho, sem dizer nada

‘Ok vamos mudar de assunto antes que recomecem as brigas!’ Evangeline falou se pondo de pé ‘Que tal se-’

A frase não foi completada. Assim que ficou de pé, Evangeline pôs a mão na cabeça sentindo uma tontura e caiu desmaiada. Todas largaram o que tinham nas mãos e correram para socorrê-la, mas nada conseguiu acordá-la. Sua respiração ainda estava lá, embora fraca, e Madalena como a mais velha pôs um fim ao acampamento. Era hora de voltar para casa, e o mais depressa possível.

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