segunda-feira, 9 de julho de 2007 05:37 Postado por Evie Stanislav
‘Muito bem meninas, conhecem as regras’ Evangeline passou animada entre as netas, carregando sua mochila ‘Dividam-se em duplas, vamos começar a montar as barracas, e nada de magia!’

Tão logo sua avó passou para o outro lado da beira do lago, Evie com um único salto alcançou a prima Pilar. A garota morena de cabelos pretos e compridos, olhos castanho claro e muito alta levou um susto com a aparição repentina da prima, deixando cair a mochila.

‘Pilar, por favor, por favor, por favor, posso dividir a barraca com você?’ Evie quase se atirou no chão para soar o mais convincente que podia

‘Claro que pode, mas por que esse desespero todo??’ Pilar riu, recolhendo a mochila do chão

‘Porque se eu não dividir com você, vou ter que ficar com a Hanna, e você com a Helena’ ela falou contando as primas ‘Ou eu com a Helena e você com a Hanna’

‘Merlin, entra logo nessa barraca, não quero dividir ela por duas semanas com nenhuma das duas!’ Agora era Pilar que parecia desesperada ‘Mas tem uma condição: nada de me acordar quando sair cedo para correr com a tia Madalena! Não sou adepta a esses exercícios de madrugada que vocês fazem!’

‘Obrigada priminha, não vou acordar você quando sair cedo’ Evie atirou a mochila dentro da barraca animada

‘Quem fica com quem então?’ Pilar também colocou a sua mochila dentro da barraca e olhou em volta do lugar confusa

‘Bom... Hanna divide com a Helena, o que é perfeito, já que a Helena não fala, então elas não vão se matar’ as duas riram ‘E a Marta divide com a Letícia’

‘E a Luisa? Vai dormir com quem?’

‘A Luisa vai dividir a barraca com a vovó!’ Evangeline estava de volta e vinha carregando a neta de 8 anos no colo ‘Assim ninguém faz nenhuma maldade com ela, como dar sustos’

‘Ora vovó, nós nunca fazemos esse tipo de coisa!’ Pilar piscou para Evie e a avó passou pelas duas balançando a cabeça

‘Já tem alguma coisa em mente, sua doente?’ Evie olhou para Pilar rindo

‘Sempre, Evie... Sempre!’ Pilar tinha um sorriso perigoso no rosto enquanto falava

As coisas começavam a mudar de figura, e o acampamento agora não parecia a pior idéia do mundo...

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‘Pilar? Pode me ouvir?’ Ela murmurou alguma coisa e sua cabeça caiu para o lado, fazendo-a roncar baixo. Evie riu: hoje sua prima perdera a aposta e já estava dormindo.

Já era a 4ª noite de acampamento, e todos os dias depois que cada uma se recolhia em sua barraca, Marta escapava para a de Evie e Pilar e as três perdiam a noção do tempo conversando e tramando brincadeiras contra Hanna. E toda vez que Marta voltava para sua barraca, Evie e Pilar travavam uma batalha para ver quem resistia mais tempo acordada. Evie perdia sempre, exceto por essa noite. Ela se aconchegou dentro do saco de dormir e encostou a cabeça no travesseiro, suspirando. Fechando os olhos, ela sentiu a escuridão da barraca a cercar, seus músculos relaxando...

Ela podia ouvir a voz de Ella a chamando, em pânico. Seus olhos abriram depressa e ela se moveu através do quarto iluminado do hospital. Ella não estava na cama, como ela pensou que estaria; os lençóis estavam embolados, com sangue sobre eles. Evie não queria saber de onde vinha o sangue. Ela só conseguia ouvir a voz de sua filha, chamando seu nome em desespero, os gritos e o choro começando a cortar a respiração da menina. Ela não conseguia ver direito o que estava acontecendo. Quando Ella chorava com força, ela ficava sem ar, ela não conseguia respirar entre os soluços e os gritos. Da ultima vez que ela fez isso, Evie teve que sacudi-la até que ela parasse de gritar e começasse a respirar devagar novamente.

Evie saiu do quarto e encarou o corredor também muito iluminado. A porta por onde ela estava passando era a única à vista, o resto das paredes estavam lisas, sem portas ou janelas. Evie sentiu uma onda de pânico a invadir, enquanto os gritos de Ella aumentavam a intensidade. Aonde ela poderia estar? Evie começou a correr pelos corredores, um por um, sem ver portas, a voz de Ella cada vez mais perto. Ela ouviu um ultimo grito antes de começar a chorar e cair de joelhos no chão, sua respiração acelerando com os soluços. Apoiou as mãos no chão, sentido o piso gelado com os dedos, e sentindo-se desesperada quando o choro de Ella foi substituído por pequenos gritos, interrompidos constantemente pela respiração alterada da menina. Evie sentiu seu coração apertar, como se alguém estivesse a machucando, não sua filha. Começando a gritar também, ela levantou e olhou em volta, vendo as paredes brancas ao seu redor e entrando em pânico novamente. Ela estava usando um avental de hospital, e todo aquele branco ao redor estava deixando ela louca. Evie encostou a testa na parede, querendo sentir o cimento gelado contra sua pele.

‘Por favor, Merlin, por favor. Devolva minha filha. Mostre-me onde a minha menina está’ Disse em voz baixa. Ela repetiu a frase diversas vezes, como um mantra, sentindo que estava se acalmando. Ela ainda podia ouvir os gritos de Ella, mas eles não eram mais tão fortes. Uma sonolência começava a tomar conta dela, e ela estava a ponto de se deixar cair no chão quando ouviu a voz de sua filha bem perto do ouvido. Virando para o lado, ela viu uma porta na parede na sua frente. O grito estava vindo daquela porta, e Evie correu para ela, abrindo e parando na entrada, vendo a cena que acontecia no quarto.

Era um quarto de menina, repleto de brinquedos, uma cama de madeira e paredes cor de rosa com muitos girassóis desenhados nela. Na parede de frente para a porta, estava uma janela, uma imensa janela que tinha a vista para um campo. Evie reconheceu o quarto. Era o quarto que ninguém tinha autorização de entrar, na casa onde passou sua infância, o mesmo quarto que ficou fechado tantos anos.

Mas a cena acontecendo nele era muito mais perturbadora. Ella estava encurralada no canto, seu rosto vermelho e molhado por causa do choro. Ela tinha marcas de sangue em volta do pescoço e do rosto, marcas que indicavam estrangulamento, o que fez Evie sentir muito ódio. A menina estava segurando uma varinha nas mãos, apontando para Josh, que estava parado no meio do quarto com o cinto da calça nas mãos. Quando Evie seguiu os olhos até sua mão, ela viu que ela estava coberta de sangue. Olhando para as marcas de sangue no rosto de Ella, ela viu o que Josh havia feito com a menina e seu coração congelou. Ele não poderia ter feito isso, não com sua filha. Ela estava a ponto de andar até ele quando ele virou e ela viu seu rosto. Não era o Josh. Ela seu pai.

Os olhos de Evie se abriram alarmados, e ela levou as mãos até o rosto para senti-lo molhado de lágrimas. Foi só então que ela ouviu que estavam chamando-a do lado de fora. Abrindo a entrada da barraca, ela sorriu quando viu que era sua tia Madalena. Ela não poderia ter aparecido em melhor hora.

‘Está tudo bem, querida?’ Madalena olhou espantada quando Evie apareceu ‘Está pálida!’

‘Está tudo bem, só acordei assustada’ Evie estava gelada ‘Tia Madalena, quem é Ella?’

‘Ella?’ Madalena se alarmou ao ouvir o nome, mas Evie não percebeu ‘Por que a pergunta?’

‘Nada demais, só um sonho esquisito e esse nome sempre aparece’ Evie deu de ombros sem se importar com o conteúdo do sonho

‘Não conheço nenhuma Ella, desculpe’ ela desviou o olhar da sobrinha, mas tornou a encará-la, pensativa ‘Com que freqüência tem esses sonhos?’

‘Não sei, de vez em quando’ ela deu de ombros outra vez ‘Não é sempre, mas toda vez que sonho com alguma criança, ela tem esse nome. Por que?’

‘Por nada, só fiquei curiosa, você disse que não era a primeira vez’

‘É porque é estranho... Ela é igual a mim! E dessa vez meu pai também estava no sonho’

‘Se ela era você, quem você era no sonho?’ Madalena começava a parecer interessada

‘Ela não era eu, só era parecida comigo quando criança’ Evie pensou um pouco ‘E eu era eu, ora. Não me vi no sonho, assisti a ele. Não sei explicar, eu vi acontecer, não podia me ver, não tinham espelhos. Isso significa alguma coisa??’

‘Não, tenho certeza que não, não precisa se preocupar’ Madalena voltou a parecer normal para acalmar a sobrinha ‘São apenas sonhos, nada mais’

‘É... Talvez eu goste do nome e não saiba’ Evie falou rindo

‘É, talvez seja isso... Vamos correr na floresta ou não?’

Evie sorriu e concordou com a cabeça, fechando a barraca e calçando o tênis, esquecendo no mesmo instante que havia acordado assustada com o que viu enquanto dormia.

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