Everybody's looking for that something
One thing that makes it all complete
You find it in the strangest places
Places you never knew it could be

Flying Without Wings – Westlife



As férias da Espanha tinham terminado e depois de se despedir dos primos e tios, Evie seguiu para a Califórnia com o irmão Max. Eles passariam o ultimo mês inteiro em Los Angeles, na casa de Josh. Evie não via a hora de chegar lá, estava morrendo de saudades dele, e esperava que as impressões e sensações estranhas que teve durante o ano evaporassem assim que reencontrasse o namorado.

Eles haviam finalmente chegado à estação de Union Pacific e Josh já estava parado ao lado do carro à espera deles, exatamente como a ultima imagem sua que Evie tinha: usava bermuda, camiseta, óculos escuros e seu inseparável boné dos Los Angeles Dodgers, o time de baseball que ele torcia, um esporte trouxa. Ele sorriu assim que viu a namorada saindo da estação.

‘Já estava pensando que tinham desistido da viagem’ Josh falou abraçando Evie

‘Nunca’ ela o beijou ‘Não agüentaria passar as férias longe de você’

‘Parem com essa agarração e me respeitem’ Max estendeu a mão para Josh e eles se abraçaram em cumprimento, rindo

‘Vamos, minha mãe e Paul estão nos esperando para irmos para Venice Beach’

‘Que novidade é essa, Josh?’ Max olhava o carro animado ‘É seu??’

‘Já fiz 16 anos, esqueceu? Agora posso dirigir, ganhei de aniversário’

‘Ah, essas férias vão ser boas!’ Max falou animado entrando no carro.

Evie apenas revirou os olhos olhando os dois parecendo duas crianças ‘Essas vão ser longas férias’

******************

'Evie, Max!’ Margo, a mãe de Josh, foi ao encontro dos recém-chegados e os abraçou

‘Oi Sra. Brenner! Como estão as coisas por aqui?’ Evie perguntou a cumprimentando

‘Estão ótimas, adoro a Califórnia. E o seu pai e a Evelyn, como estão? E o Dimitri?’

‘Estão ótimos também, pediram desculpas por não poderem vir, mas já tinham programado a viagem para a Grécia’

‘Margo, continue a conversa com a Evie no carro, não quero pegar congestionamento!’ O padrasto de Josh, Paul, parou ao lado da esposa e depois de cumprimentar Evie e Max, entrou no carro.

‘Mamãe, vocês continuam a conversa lá. Eles vão comigo no meu carro’ Josh se encaminhou para o jipe dele e os dois o seguiram.

Minutos depois de entrarem nos carros eles já estavam na estrada. A casa de Josh ficava no centro de Los Angeles, mas seu padrasto possuía uma casa de praia em Venice Beach e eles passariam as férias de verão nela esse ano. Seu pai era amigo de infância da mãe de Josh e as famílias eram muito amigas. Foi por se conhecerem desde bebês que Evie e Josh começaram a namorar aos 13 anos.

Os dois carros pararam no píer da cidade antes de chegarem na casa. Paul queria almoçar na beira da praia e Max agradeceu a parada, pois estava com fome. Sem vontade de almoçar, Evie resolveu dar um passeio pelo píer. Josh se ofereceu para ir com ela, mas ela preferiu andar sozinha. Estava com saudades do lugar, queria sentir a brisa do mar no rosto outra vez e não queria companhia para isso.

Evie sentou-se em um dos diversos bancos do píer e encarava o mar, aquela sensação de paz e tranqüilidade a invadindo. Sua vida não poderia estar melhor: sua avó não apresentara mais sinais de estar doente, sua família estava em perfeita harmonia na intenção de não perturbá-la, ela tinha amigos com quem podia contar sempre, era uma excelente aluna e tinha um namorado que não media esforços para agradá-la. O que mais ela poderia querer?

Uma bola de basquete caiu nos seus pés e a tirou do transe antes que pudesse responder a sua própria pergunta. Um menino loiro que aparentava ter no máximo 6 anos correu até ela e a apanhou. Evie sorriu para ele quando ele a encarou, e corando um pouco, o menino retribuiu o sorriso.

‘Ei Connor!’ Um garoto mais velho que usava uma camisa dos Los Angeles Lakers acenava do meio da quadra de basquete ‘Deixa a menina em paz e traz a bola!’

‘Já to indo! Tchau’ o menino chamado Connor acenou sorridente e correu

Evie não conseguiu mais desviar a atenção da quadra. Seus olhos acompanhavam o movimento dos garotos, que pela aparência pareciam ser irmãos. O mais velho aparentava ter a sua idade, 16 anos. Ela perdeu a noção do tempo em que ficou observando os irmãos brincando, pois enquanto os observava, tudo a sua volta estava mudo, nem mesmo o barulho das ondas ela podia ouvir. O único som que chegava aos seus ouvidos era dos garotos rindo, enquanto o mais velho driblava o pequeno e fazia cestas, sem deixar o que se chamava Connor pegar a bola. Evie notou também que os dois eram observados atentamente por uma senhora de aparência rígida. Ela usava óculos presos ao pescoço por uma corrente e não parava de fazer anotações em uma prancheta. Ela não parecia estar achando mesma graça de Evie na brincadeira dos irmãos.

‘Ei, por onde andou?’ Evie se assustou com a abordagem repentina e viu que era Josh ‘Estávamos procurando por você, já estamos indo para a casa’

‘Desculpe, me distrai e esqueci de voltar’ ele sorriu e estendeu a mão, ela não a segurou ‘Pode ir, eu já vou’

Josh olhou rápido na direção que ela olhava e saiu andando pelo píer, deixando-a lá como havia pedido. Evie ainda tinha a atenção nos irmãos, mas agora não era mais pela brincadeira deles. A mulher da prancheta conversava algo com o mais velho, que abraçava o menor. Não era possível ouvir de onde esta estava sentada, mas o assunto parecia ser sério. Passado um tempo a mulher puxou o mais novo e entrou em um carro com ele, deixando o outro sozinho. Evie continuou observando ele caminhar em sua direção, aparentando estar muito irritado.

‘O que está olhando?’ O garoto falou passando por Evie, notando que ela os observava

Evie acompanhou com o olhar ele atravessar a rua e olhar para ela, sem prestar atenção aonde ia, e de repente tudo que ela estivera pensando antes daquele segundo parecia ter se evaporado de sua mente, ela não conseguia lembrar de nada. Apesar de ter sido rude, ela dificilmente esqueceria o rosto daquele garoto e sua expressão ao se despedir do irmão.

‘Como eu estou mamãe?’

‘Como a princesinha que você é, meu amor’ A mulher ajeitou o laço no cabelo da filha de 9 anos e a menina sorriu

‘E eu, mamãe?’ O garotinho de 9 anos parado ao lado da menina olhou para a mãe sorridente

‘Meu homenzinho está lindo, como sempre’ Ela se curvou para beijar a testa do menino e ajeitou a gravata de seu terno ‘Agora não esqueçam o que eu falei antes de sairmos de casa: nada de bagunça, e não corram pela casa. Vocês sabem que o vovô não gosta’

‘Ainda é preciso relembrá-los de como se portar na casa de nossos pais todas às vezes, Eva?’ Um homem alto, moreno e de cabelos e olhos escuros parou ao lado deles na porta. Ele vinha de braços dados com uma mulher de cabelos escuros e olhos azuis, e com eles tinham duas crianças também com 9 anos, mas de pele muito branca e cabelos muito pretos ‘Só foi necessário falar uma única vez com Dario e Hanna’ ele indicou as crianças com a cabeça e voltou a encarar a irmã ‘Nunca me deram trabalho’

‘Nunca é demais lembrar, Ivo’ A mulher respondeu com a voz calma ‘Você, mais do que ninguém, deveria saber disso. Mesmo papai tendo que lembrá-lo todas as vezes que não era certo fazer xixi na cama, você ainda insistia em não ir ao banheiro’

‘Por Merlin, será que estou presenciando mais uma discussão, ou cheguei a tempo de impedi-la?’ Um homem idêntico aos dois irmãos parou ao lado deles, mas que aparentava ser o mais velho. Ele segurava a mão de uma criança com cada uma das mãos. Andrei, o mais velho, tinha 14 anos e ia começar o 4º ano em Durmstrang, e Pilar, com 12 anos, ia cursar o 2º ano em Setembro. Apesar da aparência séria dos dois, eles sorriram para os primos quando chegaram ‘Será que o tempo não acabou com as divergências entre vocês dois? Seus filhos estão aqui, poupe-os disso’

‘Tem razão, Nikolai, não vale à pena discutir outra vez’ Eva sorriu e beijou o irmão e os sobrinhos antes da porta abrir e a governanta da casa recebê-los com um sorriso ‘Mamãe está nos esperando, e provavelmente somos os últimos’

Sem dizer mais nada, todos entraram na mansão. O lugar já estava cheio, o barulho das animadas conversas podia ser ouvido até mesmo do lado de fora. Era a comemoração do 52º aniversário da matriarca da família, e como todo ano, tinha-se a impressão que toda a Espanha estava presente na mansão. As crianças logo de distanciaram dos pais à procura dos primos que já se encontravam na casa e depois de cumprimentar a mãe pela festa, Eva se viu cercada por duas mulheres parecidíssimas com ela. Suas irmãs mais novas, Madalena e Sofia.

‘E então, Eva’ Madalena, a mais velha das duas, segurou o braço da irmã ‘Sozinha outra vez?’

‘Ora Madalena, deixe sua irmã em paz!’ Evangeline protestou ao que parecia ser uma cobrança freqüente

‘Mas mamãe, Eva é muito nova, não pode ficar sozinha com duas crianças em casa!’ Sofia tomou partida da irmã mais velha ‘Ela precisa de um namorado!’

‘Na verdade...’ Eva começou a falar, mas parou para rir das expressões esperançosas das irmãs, e também da mãe, antes de continuar ‘Não estou sozinha já tem algum tempo...’

‘Obrigado Senhor, por atender as minhas preces’ Madalena ergueu os braços e Eva puxou-os de volta, olhando para as pessoas que as encaravam ‘Então quando vamos conhecê-lo? Por que não trouxe hoje?’

‘Fiquei com pena, não achei apropriado apresentar meu potencial futuro marido em uma reunião com o clã inteiro presente’

‘Ouviu isso mamãe?’ Sofia bateu palma animada e se virou para a mãe ‘Eva está falando em se casar!’

‘Sim, ainda não estou surda, Sofia’ Evangeline parecia surpresa, mas feliz ‘Quando pretende nos apresentá-lo, Eva?

‘Essa semana ainda, mas vou combinar um almoço somente com vocês três. Quero que conheçam o Tony antes do papai’

‘Sabia decisão. E por falar nele...’ Madalena puxou uma taça de vinho do garçom mais próximo e seu pai parou ao seu lado muito animado

‘Por favor, Enrique!’ Ele fez sinal para o fotografo que circulava por perto e o rapaz se adiantou ‘Quero uma foto minha com a minha esposa e as três mais lindas mulheres da Espanha! Que, modéstia a parte, são todas milhas filhas’

‘Sim senhor’

‘Papai é muito modesto, realmente!’ Sofia brincou e todos riram

Andrei abraçou as três filhas muito sorridente e as três ladearam a ele e a mãe, para que o fotografo pudesse tirar a foto pedida.


~*~*~*~*~

‘Evie? Está ai?’

Sofia entrou no escritório escuro de seu pai procurando pela sobrinha, mas não foi preciso uma resposta para que ela soubesse que havia a encontrado. Evie estava sentada calada na cadeira do avô, e segurava algo nas mãos, para onde olhava fixamente.

‘O que está fazendo aqui sozinha, querida?’ A mulher se aproximou e notou que a única luz acesa era a da luminária perto da mesa

‘Queria fugir da aglomeração lá fora’ Evie respondeu dando de ombros, ainda sem tirar os olhos do que agora sua tia reconhecia como um porta-retrato ‘Essa foto foi tirada no ultimo aniversário da vovó que mamãe participou, não é?

‘Sim, foi no aniversário de 52 anos da mamãe’ Sofia olhou para a foto e sentiu vontade de chorar, mas se controlou ‘Foi a ultima foto que papai tirou com Eva, por isso a mantém em cima da mesa’

‘Ela morreu 10 dias depois, acho que foi as ultimas fotos da mamãe foram todas tiradas nessa festa’ Evie tinha a voz triste enquanto falava ‘Ela faz muita falta’

‘Sua mãe faz muita falta para mim, então posso imaginar o quanto não faz para você e Max’ Sofia acariciava os cabelos da sobrinha e também não tirava os olhos da foto ‘Sabia que ela estava pensando em se casar?’

‘Com o Tony? Sim’ Evie olhou para tia e sorriu de leve ‘Mas não conhecíamos ele, mamãe tinha medo de confundir a gente e só queria que ele nos conhecesse depois de vocês. Ele morreu junto com ela, não?’

‘Sim... Conhecemos ele naquela semana, sua mãe o levou para almoçar comigo, Madalena e a mamãe, queria que déssemos nossa opinião’

‘Sinto mais falta dela quando tem essas festas de família’ Evie reassumiu o tom de voz desanimado ‘É difícil ver todo mundo chegar com os pais, e Max e eu sempre sozinhos. Sei que papai vem sempre que pode, mas não é a mesma coisa’

‘Queria poder voltar no tempo para que sua mãe estivesse aqui, mas infelizmente não posso’ Ela beijou a testa da sobrinha e levantou da cadeira ‘Vamos lá para fora um pouco, distrair a cabeça. Seu pai já está ai, e está procurando por você’

Sofia estendeu a mão para Evie e ela acompanhou a tia para fora do escritório. A mansão já estava cheia para a comemoração do 59º aniversário da matriarca. As festas eram sempre no mesmo formato, todo aquele ritual era repetido a cada ano, com as mesmas pessoas presentes e sempre as mesmas conversas. A garota localizou seu pai parado conversando com seu tio Heinrich e se aproximou.

‘Ah, vejo que Sofia encontrou você’ Heinrich abraçou a sobrinha que ainda não tinha visto desde que chegara e apertou a mão de Josef ‘Josef, não desapareça, quero lhe mostrar uma coisa, volto daqui a pouco’

‘Não vou sair daqui’ Josef olhou para a filha e sorriu ‘E você, onde estava? Cheguei há meia hora e só encontrei seu irmão’

‘Estava com dor de cabeça e fui descansar um pouco no escritório do vovô’ Mentiu. Não queria que ele soubesse que estava pensando na mãe ‘Evelyn e Dimitri não vieram?’

‘Evelyn precisou trabalhar, de ultima hora, já estava até pronta’ Ele lamentou a ausência da esposa e olhou ao redor ‘Mas Dimitri está aqui, em algum lugar’

Evie olhou para o lado tentando encontrar o irmão, e quase foi derrubada por Santiago e Letícia, que passaram como dois furacões ao seu lado. Os primos desapareceram no meio dos convidados e Josef esticou o braço depressa, detendo a 3ª pessoa que passava correndo.

‘DIMITRI!’

O garoto de 11 anos foi puxado para trás com a força de Josef e não caiu apenas porque seu pai o segurava pela manga do paletó. Ele olhou assustado para ele. Seus rosto estava vermelho e suado, era óbvio que estava correndo há bastante tempo.

‘O que lhe falei sobre correr dentro da casa?’ O garoto encolheu os ombros e não respondeu ‘Os netos de Andrei podem quebrar coisas aqui, mas você não’

‘Mas pai, eu-’

‘Não quero desculpas. Se pegar você correndo outra vez, vamos nos entender em casa’

‘Desculpa, não vou mais correr’

O garoto sorriu para Evie e saiu andando para fora da mansão, para onde Santiago e Letícia seguiram correndo segundos antes. Evie olhou para o pai e ia dizer que seu avô não se importava mais com a correria em dias de festa como esse, mas uma 4ª rajada de vento a interrompeu. De relance ela reconheceu a figura de Dario passar apressado por ela, desviando agilmente de um garçom com quem quase colidiu. E se Dario passara correndo, logo uma 5ª pessoa passaria por eles. Josef esticou o braço mais uma vez e deteve o próximo.

‘Maxmillian!’ Dessa vez foram preciso as duas mãos para segurar seu filho de 16 anos ‘Posso saber por que está correndo atrás do seu primo? E não diga que estão brincando de pega-pega, estão velhos demais para isso’

‘Quero quebrar o dedo dele!’ Max respondeu sem cerimônias e Evie se assustou ‘Ele atirou em mim no acampamento, e teve o descaramento de dizer que queria acertar um alce quando passei na frente dele! Mentira, nem tinham alces lá! E tio Ivo ainda defendeu ele!’

Evie olhava do irmão para o pai querendo rir, mas fez um enorme esforço para se controlar. Ela não sabia desse incidente. Dario devia estar com muito medo do que Max pudesse fazer como revide para não se vangloriar do fato.

‘Faça com que sejam dois dedos então’ Ele soltou o braço do filho, que sorriu e continuou correndo atrás do primo

‘Papai!’ Evie olhou para o pai chocada, mas ele riu

‘Dois dedos são pouca coisa, aquele menino merece muito mais’ Ele riu da expressão indignada da filha e quis mudar de assunto ‘Como está a sua avó? Melhorou?’

‘Um pouco’ A garota deu de ombros e olhou para a avó, que conversava animada com algumas de suas amigas ‘Os médicos disseram que ela deve ter esquecido de tomar um remédio ou outro durante o acampamento, nada demais’

‘Evangeline já teve câncer, não pode esquecer de tomar nenhum remédio, ou a doença pode voltar’ Josef falou preocupado ‘Mas ela é forte, vai passar por mais essa’

‘É, vovó é forte, e a doença não vai voltar nunca mais’

Evie abraçou o pai sem tirar os olhos da avó. Estavam todos felizes, e tudo que ela queria era que as coisas continuassem assim.

Someone told me long ago
there's a calm before the storm
I know, it's been comin' for some time

Have You Ever Seen The Rain - Creedence Clearwater


‘One, two, Freddy's coming for you’ Hanna ouviu um barulho vindo do lado de fora da barraca e encarou Helena, gelada

‘Three, four, better lock your door’ Uma segunda voz era ouvida agora, e Helena tentava se livrar as mãos frias de Hanna

‘Five, six, grab your crucifix’ Quando a terceira voz vindo da mata cantou, Hanna derrubou o livro que Helena lia e procurou pela lanterna

‘Seven, eight, gonna stay up late’ a voz estava cada vez mais próxima

‘Nine, ten, never sleep AGAIN!’ Três cabeças invadiram o espaço cantando a ultima palavra aos berros e Hanna saltou para o outro lado, desfazendo a armação da barraca e desmontando-a

‘Argh, DROGA HANNA!’ Helena explodiu em meio às gargalhadas de Evie, Pilar e Marta ‘Não vai aprender nunca que são sempre elas que fazem isso?’ Helena sacudiu a lona e pegou seus livros e mochila, irritada ‘Vou dormir com a minha mãe!’

‘Acho que ela ficou nervosa...’ Pilar falou debochada, sentando no chão ainda rindo

‘Imagina, impressão sua’ Evie sentou ao lado da prima também rindo muito ‘Pra onde a Hanna foi?’

‘Se descobrirem me contem depois!’ Marta levantou do chão depressa ‘Vovó vindo aí, fui!’

As outras duas saltaram do chão ao mesmo tempo e em questão de segundos já estava cada uma em sua barraca, escondidas dentro dos sacos de dormir. Quando Evangeline chegou ao local onde ouvira a gritaria, só encontrara sua neta Hanna embolada sob a lona, se recusando a sair enquanto sua mãe não permitisse que ela dormisse em sua barraca.

~*~*~*~*~

O incidente da barraca foi motivo de muita bronca da avó. Era inegável que as autoras do trote eram Evie, Pilar e Marta, e mesmo com as declarações taxativas de Helena em afirmar que Hanna estava imaginando coisas, a outra acusara as três, e não restaram duvidas.

Para escapar de mais sermão, as três elegeram um novo passatempo favorito para os dias que ainda restavam: pescar. Esse deveria ser todo o propósito do acampamento, mas até o momento em que elas decidiram preparar as varas, anzóis e iscas, ninguém tinha mostrado qualquer sinal de que iriam utilizar todo aquele equipamento. Peso inútil, como bem disse Helena antes mesmo de saírem de casa, há quase duas semanas atrás.

‘E então Evie?’ Pilar falou depois de muito tempo em silêncio no meio do lago ‘Quando você vai terminar com aquele seu namorado mala?’

‘Como é que é?’ Evie falou surpresa com a pergunta direta da prima. Marta continuava calada, mas olhava de uma para outra com interesse ‘Está se perguntando a mesma coisa, Marta?’

‘É, bem... Não a mesma pergunta, mas não posso discordar quando Pilar o chamou de mala’

‘Todos pensam assim ou só vocês?’ Ela estava realmente surpresa ‘Porque o Josh não é mala!’

‘Desculpa Evie, mas ele é chato sim’ Pilar nem ao menos parecia estar pensando duas vezes antes de falar ‘Ele não faz a menor questão de ser simpático com a gente. Acha o que? Que só porque já conquistou seu pai pode esnobar o resto da família? Pois ele que fique sabendo que não vai arrumar nada assim, a gente seqüestra você no dia do casamento!’

Marta caiu na gargalhada e os poucos peixes que circulavam ao redor do barco dispersaram quando seu anzol sacudiu dentro d’água, em conseqüência dos risos. Pilar acabou rindo também, mas Evie se mantinha séria.

‘Vocês não o conhecem direito, por isso o acham um pouco chato’ Ela não estava muito convicta do que dizia, mas ainda assim sentia que precisava se explicar ‘Ele só é sério’

‘Bom, quem namora ele é você, e não a gente’ Marta achou que precisava dizer alguma coisa a favor da prima ‘Mas se ele fosse um pouco mais simpático, seria mais legal’ ela deu de ombros e encarou a água antes de continuar ‘Afinal, se você ama esse menino e pretende casar com ele, ele vai ter que conviver com a gente’

Evie não respondeu e passou a encarar a água também. Pela segunda vez em poucos meses ela se via pega pela mesma questão de que se o que sentia por Josh era mesmo amor, ou ela tinha apenas se acostumado a tudo, e não passava de carinho. As meninas pareceram perceber o que ela pensava, e Pilar rapidamente mudou de assunto quando um dos peixes mordeu a isca, comemorando animada. Aquele foi o único peixe pescado em duas semanas.

~*~*~*~*~

‘Mãe, divide direito isso, é o único peixe!’ Marta falou sentando ao lado da mãe

‘Calma, eu sei’ ela riu e começou a cortar o peixe em postas ‘Mas ainda bem que eu sabia que ninguém ia pescar aqui, e trouxe comida. Do contrario já teríamos morrido de fome’

‘Você é brilhante, tia Madalena!’ Pilar brincou e todas riram

Faltavam apenas três dias para as duas semanas de acampamento chegar ao fim e as mulheres Stanislav pareciam ter chegado a um ponto de entendimento. Não estava tendo mais brigas, sustos e acusações. Estavam todas na mais perfeita ordem, mesmo que isso significasse que Evie não dirigia a palavra a Hanna, e que Helena simplesmente não emitia qualquer tipo de som, nem mesmo com sua mãe.

Os métodos adquiridos para se chegar a uma trégua não importavam. O que importava de verdade era que todas estavam em paz. E a trégua significava que todas se reuniram em volta de uma fogueira para assar o único peixe que foi pescado em todo o acampamento, e falar muitas bobagens. Evie sabia que quando as tias se juntavam para bater papo, longe das vistas do patriarca da família, os assuntos eram sempre impróprio para menores. Mas hoje, pela primeira vez, Evie não conseguia se concentrar na conversa. Sua cabeça ainda estava na conversa no barco, naquele mesmo dia à tarde.

‘Ah, mas a Evie não pode ser virgem ainda!’ Ao ouvir seu nome ser pronunciado por sua tia Sofia ela saiu do transe e olhou para as outras ‘Há quanto tempo você namora esse menino, minha querida? Dois anos?’ Evie confirmou com a cabeça ‘Então, estou certa, não?’

Um silêncio quase sepulcral se abateu sobre a roda, e a primeira coisa que Evie fez, entre corar e responder a pergunta, foi procurar a avó com o olhar. Evie viu a avó expulsar Luisa para longe da roda, e Letícia por tabela, antes de rir.

‘Não precisa me olhar com receio, acho que Sofia tem razão...’ Evangeline falou divertida e todas riram ‘Eu perdi minha virgindade com seu avô na sua idade, ele era bem apressadinho’

‘Ai mamãe, podíamos ter ido dormir sem essa informação!’ Madalena falou parecendo aflita ao imaginar demais e todo mundo riu ‘Mas então Evie? Estamos certas ou não?’

‘Sim, há alguns meses, nas festas de fim de ano’ Ela respondeu sem graça, e as gargalhadas das tias não ajudavam nem um pouco

‘Ho Ho Ho, Feliz Natal, não?’ Madalena brincou e até mesmo Helena riu

‘Vocês estão deixando a menina sem graça’ Sonia, mãe de Mario e Diego falou, tentando amenizar

‘Ora Sonia, não precisa tentar ser a apaziguadora, Evie é uma mulher Stanislav, já devia estar acostumada com as espetadas’ Sofia falou gargalhando, o vinho começando a fazer efeito

‘E a Helena? Será que devemos fazer a mesma pergunta?’ Madalena provocou Sofia e Helena apenas olhou a tia pelo canto do olho, sem dizer nada

‘Ok vamos mudar de assunto antes que recomecem as brigas!’ Evangeline falou se pondo de pé ‘Que tal se-’

A frase não foi completada. Assim que ficou de pé, Evangeline pôs a mão na cabeça sentindo uma tontura e caiu desmaiada. Todas largaram o que tinham nas mãos e correram para socorrê-la, mas nada conseguiu acordá-la. Sua respiração ainda estava lá, embora fraca, e Madalena como a mais velha pôs um fim ao acampamento. Era hora de voltar para casa, e o mais depressa possível.

‘Muito bem meninas, conhecem as regras’ Evangeline passou animada entre as netas, carregando sua mochila ‘Dividam-se em duplas, vamos começar a montar as barracas, e nada de magia!’

Tão logo sua avó passou para o outro lado da beira do lago, Evie com um único salto alcançou a prima Pilar. A garota morena de cabelos pretos e compridos, olhos castanho claro e muito alta levou um susto com a aparição repentina da prima, deixando cair a mochila.

‘Pilar, por favor, por favor, por favor, posso dividir a barraca com você?’ Evie quase se atirou no chão para soar o mais convincente que podia

‘Claro que pode, mas por que esse desespero todo??’ Pilar riu, recolhendo a mochila do chão

‘Porque se eu não dividir com você, vou ter que ficar com a Hanna, e você com a Helena’ ela falou contando as primas ‘Ou eu com a Helena e você com a Hanna’

‘Merlin, entra logo nessa barraca, não quero dividir ela por duas semanas com nenhuma das duas!’ Agora era Pilar que parecia desesperada ‘Mas tem uma condição: nada de me acordar quando sair cedo para correr com a tia Madalena! Não sou adepta a esses exercícios de madrugada que vocês fazem!’

‘Obrigada priminha, não vou acordar você quando sair cedo’ Evie atirou a mochila dentro da barraca animada

‘Quem fica com quem então?’ Pilar também colocou a sua mochila dentro da barraca e olhou em volta do lugar confusa

‘Bom... Hanna divide com a Helena, o que é perfeito, já que a Helena não fala, então elas não vão se matar’ as duas riram ‘E a Marta divide com a Letícia’

‘E a Luisa? Vai dormir com quem?’

‘A Luisa vai dividir a barraca com a vovó!’ Evangeline estava de volta e vinha carregando a neta de 8 anos no colo ‘Assim ninguém faz nenhuma maldade com ela, como dar sustos’

‘Ora vovó, nós nunca fazemos esse tipo de coisa!’ Pilar piscou para Evie e a avó passou pelas duas balançando a cabeça

‘Já tem alguma coisa em mente, sua doente?’ Evie olhou para Pilar rindo

‘Sempre, Evie... Sempre!’ Pilar tinha um sorriso perigoso no rosto enquanto falava

As coisas começavam a mudar de figura, e o acampamento agora não parecia a pior idéia do mundo...

~*~*~*~*~

‘Pilar? Pode me ouvir?’ Ela murmurou alguma coisa e sua cabeça caiu para o lado, fazendo-a roncar baixo. Evie riu: hoje sua prima perdera a aposta e já estava dormindo.

Já era a 4ª noite de acampamento, e todos os dias depois que cada uma se recolhia em sua barraca, Marta escapava para a de Evie e Pilar e as três perdiam a noção do tempo conversando e tramando brincadeiras contra Hanna. E toda vez que Marta voltava para sua barraca, Evie e Pilar travavam uma batalha para ver quem resistia mais tempo acordada. Evie perdia sempre, exceto por essa noite. Ela se aconchegou dentro do saco de dormir e encostou a cabeça no travesseiro, suspirando. Fechando os olhos, ela sentiu a escuridão da barraca a cercar, seus músculos relaxando...

Ela podia ouvir a voz de Ella a chamando, em pânico. Seus olhos abriram depressa e ela se moveu através do quarto iluminado do hospital. Ella não estava na cama, como ela pensou que estaria; os lençóis estavam embolados, com sangue sobre eles. Evie não queria saber de onde vinha o sangue. Ela só conseguia ouvir a voz de sua filha, chamando seu nome em desespero, os gritos e o choro começando a cortar a respiração da menina. Ela não conseguia ver direito o que estava acontecendo. Quando Ella chorava com força, ela ficava sem ar, ela não conseguia respirar entre os soluços e os gritos. Da ultima vez que ela fez isso, Evie teve que sacudi-la até que ela parasse de gritar e começasse a respirar devagar novamente.

Evie saiu do quarto e encarou o corredor também muito iluminado. A porta por onde ela estava passando era a única à vista, o resto das paredes estavam lisas, sem portas ou janelas. Evie sentiu uma onda de pânico a invadir, enquanto os gritos de Ella aumentavam a intensidade. Aonde ela poderia estar? Evie começou a correr pelos corredores, um por um, sem ver portas, a voz de Ella cada vez mais perto. Ela ouviu um ultimo grito antes de começar a chorar e cair de joelhos no chão, sua respiração acelerando com os soluços. Apoiou as mãos no chão, sentido o piso gelado com os dedos, e sentindo-se desesperada quando o choro de Ella foi substituído por pequenos gritos, interrompidos constantemente pela respiração alterada da menina. Evie sentiu seu coração apertar, como se alguém estivesse a machucando, não sua filha. Começando a gritar também, ela levantou e olhou em volta, vendo as paredes brancas ao seu redor e entrando em pânico novamente. Ela estava usando um avental de hospital, e todo aquele branco ao redor estava deixando ela louca. Evie encostou a testa na parede, querendo sentir o cimento gelado contra sua pele.

‘Por favor, Merlin, por favor. Devolva minha filha. Mostre-me onde a minha menina está’ Disse em voz baixa. Ela repetiu a frase diversas vezes, como um mantra, sentindo que estava se acalmando. Ela ainda podia ouvir os gritos de Ella, mas eles não eram mais tão fortes. Uma sonolência começava a tomar conta dela, e ela estava a ponto de se deixar cair no chão quando ouviu a voz de sua filha bem perto do ouvido. Virando para o lado, ela viu uma porta na parede na sua frente. O grito estava vindo daquela porta, e Evie correu para ela, abrindo e parando na entrada, vendo a cena que acontecia no quarto.

Era um quarto de menina, repleto de brinquedos, uma cama de madeira e paredes cor de rosa com muitos girassóis desenhados nela. Na parede de frente para a porta, estava uma janela, uma imensa janela que tinha a vista para um campo. Evie reconheceu o quarto. Era o quarto que ninguém tinha autorização de entrar, na casa onde passou sua infância, o mesmo quarto que ficou fechado tantos anos.

Mas a cena acontecendo nele era muito mais perturbadora. Ella estava encurralada no canto, seu rosto vermelho e molhado por causa do choro. Ela tinha marcas de sangue em volta do pescoço e do rosto, marcas que indicavam estrangulamento, o que fez Evie sentir muito ódio. A menina estava segurando uma varinha nas mãos, apontando para Josh, que estava parado no meio do quarto com o cinto da calça nas mãos. Quando Evie seguiu os olhos até sua mão, ela viu que ela estava coberta de sangue. Olhando para as marcas de sangue no rosto de Ella, ela viu o que Josh havia feito com a menina e seu coração congelou. Ele não poderia ter feito isso, não com sua filha. Ela estava a ponto de andar até ele quando ele virou e ela viu seu rosto. Não era o Josh. Ela seu pai.

Os olhos de Evie se abriram alarmados, e ela levou as mãos até o rosto para senti-lo molhado de lágrimas. Foi só então que ela ouviu que estavam chamando-a do lado de fora. Abrindo a entrada da barraca, ela sorriu quando viu que era sua tia Madalena. Ela não poderia ter aparecido em melhor hora.

‘Está tudo bem, querida?’ Madalena olhou espantada quando Evie apareceu ‘Está pálida!’

‘Está tudo bem, só acordei assustada’ Evie estava gelada ‘Tia Madalena, quem é Ella?’

‘Ella?’ Madalena se alarmou ao ouvir o nome, mas Evie não percebeu ‘Por que a pergunta?’

‘Nada demais, só um sonho esquisito e esse nome sempre aparece’ Evie deu de ombros sem se importar com o conteúdo do sonho

‘Não conheço nenhuma Ella, desculpe’ ela desviou o olhar da sobrinha, mas tornou a encará-la, pensativa ‘Com que freqüência tem esses sonhos?’

‘Não sei, de vez em quando’ ela deu de ombros outra vez ‘Não é sempre, mas toda vez que sonho com alguma criança, ela tem esse nome. Por que?’

‘Por nada, só fiquei curiosa, você disse que não era a primeira vez’

‘É porque é estranho... Ela é igual a mim! E dessa vez meu pai também estava no sonho’

‘Se ela era você, quem você era no sonho?’ Madalena começava a parecer interessada

‘Ela não era eu, só era parecida comigo quando criança’ Evie pensou um pouco ‘E eu era eu, ora. Não me vi no sonho, assisti a ele. Não sei explicar, eu vi acontecer, não podia me ver, não tinham espelhos. Isso significa alguma coisa??’

‘Não, tenho certeza que não, não precisa se preocupar’ Madalena voltou a parecer normal para acalmar a sobrinha ‘São apenas sonhos, nada mais’

‘É... Talvez eu goste do nome e não saiba’ Evie falou rindo

‘É, talvez seja isso... Vamos correr na floresta ou não?’

Evie sorriu e concordou com a cabeça, fechando a barraca e calçando o tênis, esquecendo no mesmo instante que havia acordado assustada com o que viu enquanto dormia.

domingo, 1 de julho de 2007 08:53 Postado por Evie Stanislav 0 comentários
O último quarto da república Avalon estava o que poderia ser chamado de caos. Móveis fora do lugar, roupas espalhadas, pacotes de biscoito abertos em cima da mesa e ao pé da cama de Evie, duas malas. Era o último dia na escola e começavam as tão esperadas férias de verão. O 5º ano terminava ali, junto com os N.O.M.s, e Evie não queria pensar em suas notas durante as férias. ‘Me preocuparei com elas quando voltar pra casa’ ela pensou enquanto fechava a última mala, jogando ao lado das outras duas já prontas.

Ela estava indo para a casa de veraneio dos avôs, em Andaluzia, Espanha. Seu irmão Max também ia, mas Dimitri ficaria na Bulgária para viajar com os pais, algo que Evie lamentava muito. Mesmo que a viagem para a Espanha fosse para comemorar o aniversário de sua avó, ela queria que ele fosse. Mas fora Dimitri que escolhera seguir com os pais para a Grécia, então nada que Evie dissesse o convenceria do contrário.

‘Pronto, terminei!’ Evie se largou na cama exausta

‘Não acha que está levando roupa demais?’ Milla perguntou olhando para sua única mala em sua cama. Nina observou também, revirando os olhos

‘Claro que não! Preciso ter opções de roupa ou enlouqueço!’

‘Ah, a Evie tem razão!’ Vina sentou na cama cansada depois do esforço para fechar sua 2ª mala ‘Precisamos ter opções, não dá pra ser uma só pra cada dia!’

O apito do trem soou pela 3ª vez, o que indicava que sairia em meia hora, sem atrasos. As quatro fizeram as bagagens levitarem e saíram apressadas do quarto, se acomodando em uma das cabines vazias. Evie lançou um ultimo olhar para o castelo e os muros que o cercavam, sorrindo. Era oficialmente o inicio das férias.

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‘Se puder andar mais devagar eu espero’ Max resmungava parado a quase dois metros de distancia da irmã

‘Se puder ser mais cavalheiro e me ajudar com as malas eu agradeço’ Evie retrucou, cruzando os braços no meio do saguão e soltando as malas no chão

Max voltou contrariado a apanhou as duas malas que ela soltara, saindo outra vez na frente e largando Evie para trás. Eles haviam chegado ao aeroporto de Sofia e deveriam pegar um vôo direto para a Espanha, mas ainda nem haviam despachada as malas.

Eles já estavam acostumados ao ritual de viajar sozinhos, seu pai raramente participava das reuniões de família da ex-mulher, indo apenas aos eventos mais importantes. Evie sabia que ele estaria na Espanha no dia da festa de sua avó, e isso bastava para ela.

‘Aqui, nossos lugares são esses dois’ Max acomodou sua mochila no compartimento acima da poltrona e deitou espalhado

‘Que bom que os acentos da primeira classe são espaçosos, assim você não esbarra em mim’ ela provocou o irmão e ele apertou as bochechas dela

‘Me acorde quando chegarmos à Espanha’ Max se enrolou na coberta e virou para o lado, apagando na mesma hora

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‘Ah, até que enfim chegaram!’

Evie ouviu uma voz irritantemente conhecida e revirou os olhos antes mesmo de encontrar sua dona. Hanna e Dario, seus primos de mesma idade que estudavam em Beauxbatons estavam parados no saguão do aeroporto, sentados sobre as bagagens e com caras de poucos amigos. Conhecendo bem os gêmeos como ela e Max conheciam, não era necessário ser vidente para saber o motivo do mau humor: o vôo da Bulgária para a Espanha havia atrasado por quase meia hora, o que significava que eles estavam esperando os dois há algum tempo. E os quatro tinham ordens expressas dos avôs de esperaram uns pelos outros, deveriam sempre chegar juntos quando viajavam sozinhos.

‘Não temos culpa se o vôo atrasou!’ Max foi logo respondendo mal humorado, ele e Dario nunca se entenderam

‘Estamos esperando há mais de uma hora, já íamos embora sem vocês!’ Hanna reclamou impaciente e colocou a bolsa no ombro

‘Sim, claro que iam embora’ Evie riu na cara da prima ‘Como se fossem valentes o suficiente para levarem bronca de graça do vovô. Parem de chorar como dois bebês e vamos embora, estou cansada’

Max e Evie não esperaram os primos terminarem de recolher as malas e já foram chamando um táxi, se acomodando nele enquanto os dois vinham correndo para alcançá-los.

A viagem até Andaluzia pareceu durar uma eternidade, pois o silencio no táxi era torturante. Ninguém fazia a menor questão de manter uma conversa, nenhum deles engolia o fato de terem a mesma idade e com isso, estarem presos uns aos outros. Era uma espécie de sistema de proteção mútua que o avô deles impôs aos filhos e netos: aqueles com idades iguais ou aproximadas deveriam sempre estar juntos, ajudando e protegendo um ao outro. A regra parecia se aplicar muito bem ao resto da família, mas não a eles. Evie considerava Hanna a garota mais esnobe e falsa da face da terra, e Max via em Dario um garoto que não media esforços para conquistar seus objetivos, mesmo que isso significasse pisar em cima de seus próprios pais. Eles definitivamente não viam qualquer possibilidade de um dia se entenderem.

Quando o carro parou em frente à mansão de veraneio dos Stanislav em Andaluzia, Evie foi a primeira a correr para fora do táxi. Seus avôs já estavam parados no portão a espera deles, preocupados com a demora, e sua avó foi a primeira pessoa que ela abraçou. Os outros três desembarcaram com calma e trazendo as bagagens, entraram na casa. Todos os primos e tios já estavam reunidos na sala de estar e os quatro tomaram seus lugares para ouvir o que seus avôs tinham a dizer.

‘Bem, agora que estamos todos aqui’ ela olhou para os quatro últimos e esboçou um sorriso ‘podemos começar a contar as novidades’

‘Evangeline e eu achamos que passamos pouco tempo com todos vocês, e com a intenção de interagirmos mais, eu levarei meus filhos, genros e netos para um acampamento de caça, no Parque Natural de Cazorla!’ Andrei falou animado e os garotos se agitaram ao som da palavra “caça”

‘E eu vou levar minhas filhas, noras e netas ao mesmo parque, mas na outra extremidade, para um acampamento mais calmo, de pesca’ Evangeline falou no mesmo tom animado e suas filhas, noras e algumas netas pareceram animadas. Apenas Evie, Hanna e Helena não esboçaram qualquer tipo de empolgação.

Andrei deu ordem para que cada um fosse fazer uma mochila básica para duas semanas e comunicou que todos partiriam em duas horas. A sala se esvaziou em questão de segundos, com gente correndo para todos os lados até seus cômodos para começar a preparar as coisas. Mas Evie não correu, e subiu as escadas até seu quarto sem pressa alguma. Duas semanas de acampamento com Hanna na mesma barraca? Essas férias prometiam ser um desastre...