Estava quase na hora de encontrarmos as meninas na recepção do hotel e Micah já estava pronto para descer, mas agora era eu quem ainda estava enrolada em um roupão, dominada pela preguiça. Meus pés ainda doíam e estavam um pouco inchados, então os deixei descansando em cima de uma almofada enquanto Micah me prendia pela cintura, me deixando tão aconchegada em seu peito que seria difícil a preguiça me abandonar. Uma de suas mãos mexia em cabelo e a outra alisava minha barriga. Esse gesto já era tão comum que às vezes nem percebia.
‘Vocês compraram a Babies “R” Us toda’ Micah comentou olhando as sacolas espalhadas pelo chão do quarto ‘Sobrou alguma coisa pros outros clientes?’
‘Vivi deixou algumas sobras, mas nem tudo é meu, comprei um monte de coisa pra Milla também!’ Falei animada ‘Como não sabemos o sexo ainda, compramos tudo amarelo e branco’
‘A criança vai parecer um pomo de ouro’ Ele riu.
‘Como você é implicante... Não são tão amarelas assim!’ Ele riu mais alto e me beijou.
‘O bebê está quieto’ Comentou de repente, olhando para minha barriga ‘Ele costuma se mexer bem, não?’
‘É verdade, mas acho que ainda é cedo para ele se mexer o tempo todo’ Lembrei do que o médico falou e não me preocupei ‘Hoje ele ficou quietinho’
‘Já estão prontos?’ Ouvimos uma batida na porta e Micah a destrancou usando a varinha, deixando Tessa entrar ‘Evie, você ainda está assim?’
‘Ai desculpa, me distrai conversando’ Falei levantando apressada da cama e correndo pro banheiro ‘Fico pronta em um segundo!’
‘Tessa, é normal que o bebê não tenha se mexido hoje?’ Ouvi Micah perguntar.
‘Ele ainda não está na fase em que se mexe o dia inteiro e deixa Evie desconfortável, mas não é normal não ter se mexido o dia inteiro’ Senti o tom de voz dela preocupado e vesti a blusa depressa, abrindo a porta do banheiro. Tessa me encarou ‘Quando foi a última vez que você sentiu o bebê mexer?’
‘Ontem, na parte da tarde’ Respondi começando a me preocupar também.
‘Pode não ser nada, mas prefiro levar você até um hospital, só pra ter certeza’ Ela falou por fim e Micah já se pôs de pé ao meu lado ‘Vivi e Nikki podem segurar a reserva do restaurante, eu acompanho vocês’
Nem mesmo contestei e peguei minha bolsa em cima da mesa, saindo com ela. Tessa era médica e mesmo não sendo obstetra, estava acompanhando todo o processo da minha gravidez com o meu médico, então se ela achava que era melhor conferir se tudo estava bem, não tinha razão para discutir. Micah foi todo o caminho até o hospital segurando firme minha mão e podia sentir que ele estava preocupado, mas não deixava transparecer, talvez para me acalmar.
Tessa conhecia a obstetra de plantão naquele dia e passei a frente de algumas pessoas, então assim que chegamos fui direto para o quarto e esperei apenas alguns minutos até que a médica entrasse e depois que Tessa explicou rapidamente o que a motivou a me levar até lá, ela ligou o aparelho de ultrassom e começou a passar na minha barriga. Ela usou o aparelho por alguns minutos, sempre captando a mesma imagem, paralisada. Não conseguia ver tudo com clareza, mas podia identificar o formato do bebê, já inteiramente desenvolvido por fora.
‘Quando foi a última vez que o bebê se mexeu?’ Ela perguntou em um tom de voz que não passava nem calma nem preocupação.
‘Ontem, na parte da tarde’ Respondi tentando ver o que ela via no monitor, mas sem sucesso.
‘Nenhum sangramento? Espasmos?’ Neguei com a cabeça e ela parecia intrigada ‘vou fazer um zumbido’ Ela continuou passando o aparelho na minha barriga, fazendo um barulho alto. Repetiu três vezes e desligou.
‘Tem certeza que colocou na cabeça?’ Tessa perguntou já alarmada e comecei a me apavorar. A médica já estava limpando minha barriga ‘E quanto ao liquido amniótico? Se...’
‘Por favor, sentem-se, vocês dois’ Ela falou olhando cautelosa para Tessa e Micah não se moveu, mas apertou minha mão ‘Eu observei por mais de 5 minutos. Não há batimentos cardíacos, não há movimento do corpo. Não há resposta ao estimulo acústico’ Apertei a mão de Micah com força, sem precisar continuar ouvindo para saber o que ela diria ‘Eu sinto muito, mas o bebê está morto. Pode ter sido uma infecção, um acidente com o cordão, eritroblastose, pré-eclampsia, talvez nunca saibamos’ Vi Tessa desabar na cadeira, sem uma reação definida. Eu ainda olhava imóvel para a médica ‘Vou interná-la pra fazer uma indução’
‘Indução?’ Consegui perguntar por fim.
‘Temos que tirar o bebê rápido’ Ela explicou.
‘Eu vou entrar em trabalho de parto?’
‘Sinto muito’ Ela parecia sincera ‘Vou pedir uma epidural e fazer sua ficha’
‘A pressão dela estava boa, nunca teve febre nem nada. O que aconteceu?’ Tessa falou ainda sentada e olhando para a parede.
‘Faremos uma autopsia depois do parto para descobrir’ A médica respondeu e saiu da sala.
Micah ainda apertava minha mão com força, de pé ao lado da cama. Quando a porta se fechou ele me encarou com uma expressão de pura dor, mas ao mesmo tempo dura. Puxei-o para baixo e ele me abraçou. Comecei a chorar desesperada, sem conseguir falar.
Depois do que pareceu uma eternidade, Evie começou a ser preparada pelas enfermeiras para o parto. Vivi e Nikki já estavam no hospital, mas se encarregaram de avisar nossas famílias e não estavam no quarto quando a equipe medica chegou. Não sai do lado dela um segundo sequer, e nem Tessa, que pediu para acompanhar tudo. Eles a anestesiaram e Evie não parava de chorar. Aquilo estava me deixando desesperado, pois não havia nada que eu pudesse fazer para acalmá-la. Estava de mãos atadas e aquela sensação de impotência, quando a pessoa que você ama está sofrendo, devia ser a pior sensação do mundo.
Eu apertava a mão dela, nervoso, enquanto a via se esforçar ao máximo para empurrar o bebê para fora. Seu rosto estava molhado de suor e ela já se sentia fraca, sem forças. Encostou a cabeça na cama chorando, mas a puxei de volta, beijando sua testa.
‘Não consigo mais’ Disse chorando, olhando para mim suplicante.
‘Só mais um pouco, meu amor’ Apertei sua mão e a beijei ‘Já vai terminar, eu prometo’
‘Evie, só mais uma vez’ Tessa falou a olhando por cima da barriga ‘Mais uma e ele sai. Conte até três e empurre’
Ela respirou fundo e contou até três, reunindo toda força que ainda lhe restava. Evie gritava tanto que parecia ser uma dor horrível, era como se estivesse morrendo, mas segundos depois vi a médica puxar um bebê muito pequeno e leva-lo embora. Deitaram-no em uma incubadora e o cercaram rápido.
‘Acabou’ Beijei sua testa, também cansado ‘Acabou’
‘O cordão enroscou no pescoço’ A médica falou ainda perto de nós ‘Ele se virou e se enroscou no cordão umbilical. Não há o que fazer para evitar isso. Não é genético, não é uma infecção. É só má sorte’ Ela levantou e se juntou aos outros médicos.
Deitei a cabeça sobre a dela e ficamos encarando o cerco de médicos em volta do bebê, que não emitia som algum. Ela afirmava que a dor já havia passado, mas ainda chorava. Eu me esforçava ao máximo para transparecer calma e demonstrar força perto dela. Os médicos se afastaram do vidro e o vi de relance. Era tão pequeno e frágil, e não movia um músculo. A médica o pegou no colo e caminhou até a cama. Evie estendeu a mão para segura-lo e virei o rosto, me afastando sem conseguir olhar pra ele.
‘Me perdoe’ Evie disse alisando seu rosto, as lágrimas escorrendo ‘Eu te amo’
Ouvi-a dizer enquanto Tessa se aproximava tentando controlar o choro e abri a porta da sala com um soco, saindo para o corredor vazio àquela hora da noite. Minha vontade era chutar tudo que estivesse em meu caminho até me acalmar, mas não conseguia reagir a nada. Andei até as poltronas perto da janela sem rumo, não sabia para onde ir e nem o que fazer.
‘Micah?’ Ouvi a voz de Michael e me virei rápido, o encontrando parado a poucos passos de mim, os braços abertos e uma expressão de dor.
Cheguei até ele numa passada só e o abracei com força, sem conseguir mais segurar as lágrimas. Enterrei a cabeça em seu ombro e me permiti chorar como uma criança.
‘Está tudo bem, filho’ Michael batia de leve nas minhas costas com uma mão e segurava minha cabeça com a outra. Sua voz era triste, mas era bom ouvi-la ‘Vai ficar tudo bem’.
‘Vocês compraram a Babies “R” Us toda’ Micah comentou olhando as sacolas espalhadas pelo chão do quarto ‘Sobrou alguma coisa pros outros clientes?’
‘Vivi deixou algumas sobras, mas nem tudo é meu, comprei um monte de coisa pra Milla também!’ Falei animada ‘Como não sabemos o sexo ainda, compramos tudo amarelo e branco’
‘A criança vai parecer um pomo de ouro’ Ele riu.
‘Como você é implicante... Não são tão amarelas assim!’ Ele riu mais alto e me beijou.
‘O bebê está quieto’ Comentou de repente, olhando para minha barriga ‘Ele costuma se mexer bem, não?’
‘É verdade, mas acho que ainda é cedo para ele se mexer o tempo todo’ Lembrei do que o médico falou e não me preocupei ‘Hoje ele ficou quietinho’
‘Já estão prontos?’ Ouvimos uma batida na porta e Micah a destrancou usando a varinha, deixando Tessa entrar ‘Evie, você ainda está assim?’
‘Ai desculpa, me distrai conversando’ Falei levantando apressada da cama e correndo pro banheiro ‘Fico pronta em um segundo!’
‘Tessa, é normal que o bebê não tenha se mexido hoje?’ Ouvi Micah perguntar.
‘Ele ainda não está na fase em que se mexe o dia inteiro e deixa Evie desconfortável, mas não é normal não ter se mexido o dia inteiro’ Senti o tom de voz dela preocupado e vesti a blusa depressa, abrindo a porta do banheiro. Tessa me encarou ‘Quando foi a última vez que você sentiu o bebê mexer?’
‘Ontem, na parte da tarde’ Respondi começando a me preocupar também.
‘Pode não ser nada, mas prefiro levar você até um hospital, só pra ter certeza’ Ela falou por fim e Micah já se pôs de pé ao meu lado ‘Vivi e Nikki podem segurar a reserva do restaurante, eu acompanho vocês’
Nem mesmo contestei e peguei minha bolsa em cima da mesa, saindo com ela. Tessa era médica e mesmo não sendo obstetra, estava acompanhando todo o processo da minha gravidez com o meu médico, então se ela achava que era melhor conferir se tudo estava bem, não tinha razão para discutir. Micah foi todo o caminho até o hospital segurando firme minha mão e podia sentir que ele estava preocupado, mas não deixava transparecer, talvez para me acalmar.
Tessa conhecia a obstetra de plantão naquele dia e passei a frente de algumas pessoas, então assim que chegamos fui direto para o quarto e esperei apenas alguns minutos até que a médica entrasse e depois que Tessa explicou rapidamente o que a motivou a me levar até lá, ela ligou o aparelho de ultrassom e começou a passar na minha barriga. Ela usou o aparelho por alguns minutos, sempre captando a mesma imagem, paralisada. Não conseguia ver tudo com clareza, mas podia identificar o formato do bebê, já inteiramente desenvolvido por fora.
‘Quando foi a última vez que o bebê se mexeu?’ Ela perguntou em um tom de voz que não passava nem calma nem preocupação.
‘Ontem, na parte da tarde’ Respondi tentando ver o que ela via no monitor, mas sem sucesso.
‘Nenhum sangramento? Espasmos?’ Neguei com a cabeça e ela parecia intrigada ‘vou fazer um zumbido’ Ela continuou passando o aparelho na minha barriga, fazendo um barulho alto. Repetiu três vezes e desligou.
‘Tem certeza que colocou na cabeça?’ Tessa perguntou já alarmada e comecei a me apavorar. A médica já estava limpando minha barriga ‘E quanto ao liquido amniótico? Se...’
‘Por favor, sentem-se, vocês dois’ Ela falou olhando cautelosa para Tessa e Micah não se moveu, mas apertou minha mão ‘Eu observei por mais de 5 minutos. Não há batimentos cardíacos, não há movimento do corpo. Não há resposta ao estimulo acústico’ Apertei a mão de Micah com força, sem precisar continuar ouvindo para saber o que ela diria ‘Eu sinto muito, mas o bebê está morto. Pode ter sido uma infecção, um acidente com o cordão, eritroblastose, pré-eclampsia, talvez nunca saibamos’ Vi Tessa desabar na cadeira, sem uma reação definida. Eu ainda olhava imóvel para a médica ‘Vou interná-la pra fazer uma indução’
‘Indução?’ Consegui perguntar por fim.
‘Temos que tirar o bebê rápido’ Ela explicou.
‘Eu vou entrar em trabalho de parto?’
‘Sinto muito’ Ela parecia sincera ‘Vou pedir uma epidural e fazer sua ficha’
‘A pressão dela estava boa, nunca teve febre nem nada. O que aconteceu?’ Tessa falou ainda sentada e olhando para a parede.
‘Faremos uma autopsia depois do parto para descobrir’ A médica respondeu e saiu da sala.
Micah ainda apertava minha mão com força, de pé ao lado da cama. Quando a porta se fechou ele me encarou com uma expressão de pura dor, mas ao mesmo tempo dura. Puxei-o para baixo e ele me abraçou. Comecei a chorar desesperada, sem conseguir falar.
ººº
Depois do que pareceu uma eternidade, Evie começou a ser preparada pelas enfermeiras para o parto. Vivi e Nikki já estavam no hospital, mas se encarregaram de avisar nossas famílias e não estavam no quarto quando a equipe medica chegou. Não sai do lado dela um segundo sequer, e nem Tessa, que pediu para acompanhar tudo. Eles a anestesiaram e Evie não parava de chorar. Aquilo estava me deixando desesperado, pois não havia nada que eu pudesse fazer para acalmá-la. Estava de mãos atadas e aquela sensação de impotência, quando a pessoa que você ama está sofrendo, devia ser a pior sensação do mundo.
Eu apertava a mão dela, nervoso, enquanto a via se esforçar ao máximo para empurrar o bebê para fora. Seu rosto estava molhado de suor e ela já se sentia fraca, sem forças. Encostou a cabeça na cama chorando, mas a puxei de volta, beijando sua testa.
‘Não consigo mais’ Disse chorando, olhando para mim suplicante.
‘Só mais um pouco, meu amor’ Apertei sua mão e a beijei ‘Já vai terminar, eu prometo’
‘Evie, só mais uma vez’ Tessa falou a olhando por cima da barriga ‘Mais uma e ele sai. Conte até três e empurre’
Ela respirou fundo e contou até três, reunindo toda força que ainda lhe restava. Evie gritava tanto que parecia ser uma dor horrível, era como se estivesse morrendo, mas segundos depois vi a médica puxar um bebê muito pequeno e leva-lo embora. Deitaram-no em uma incubadora e o cercaram rápido.
‘Acabou’ Beijei sua testa, também cansado ‘Acabou’
‘O cordão enroscou no pescoço’ A médica falou ainda perto de nós ‘Ele se virou e se enroscou no cordão umbilical. Não há o que fazer para evitar isso. Não é genético, não é uma infecção. É só má sorte’ Ela levantou e se juntou aos outros médicos.
Deitei a cabeça sobre a dela e ficamos encarando o cerco de médicos em volta do bebê, que não emitia som algum. Ela afirmava que a dor já havia passado, mas ainda chorava. Eu me esforçava ao máximo para transparecer calma e demonstrar força perto dela. Os médicos se afastaram do vidro e o vi de relance. Era tão pequeno e frágil, e não movia um músculo. A médica o pegou no colo e caminhou até a cama. Evie estendeu a mão para segura-lo e virei o rosto, me afastando sem conseguir olhar pra ele.
‘Me perdoe’ Evie disse alisando seu rosto, as lágrimas escorrendo ‘Eu te amo’
Ouvi-a dizer enquanto Tessa se aproximava tentando controlar o choro e abri a porta da sala com um soco, saindo para o corredor vazio àquela hora da noite. Minha vontade era chutar tudo que estivesse em meu caminho até me acalmar, mas não conseguia reagir a nada. Andei até as poltronas perto da janela sem rumo, não sabia para onde ir e nem o que fazer.
‘Micah?’ Ouvi a voz de Michael e me virei rápido, o encontrando parado a poucos passos de mim, os braços abertos e uma expressão de dor.
Cheguei até ele numa passada só e o abracei com força, sem conseguir mais segurar as lágrimas. Enterrei a cabeça em seu ombro e me permiti chorar como uma criança.
‘Está tudo bem, filho’ Michael batia de leve nas minhas costas com uma mão e segurava minha cabeça com a outra. Sua voz era triste, mas era bom ouvi-la ‘Vai ficar tudo bem’.