terça-feira, 11 de maio de 2010 17:36 Postado por Micah Sanders Wade 2 comentários
Dezembro de 2002

O dia de recrutar os garotos no reformatório havia chegado e depois de quase uma hora explicando o projeto a dois deles, eles estavam dispostos a participar. Seus nomes eram Michael Sullivan e Walter Ferguson, de 15 anos. Ambos tinham um extenso histórico de fugas e semanas de penitencia na solitária, mas a perspectiva de passar algumas horas longe daquela prisão parecia ter sido o maior incentivo para a cooperação. Faltava apenas um garoto, o mais complicado dos três. Thomas Marcano, um descendente de italiano sem pai nem mãe, campeão de fugas de Sunny Vale e conhecido por estar sempre desafiando os guardas e começando as brigas entre os detentos.

Aquele garoto tinha tudo para não colaborar, mas era quem eu mais queria no projeto. O guarda me autorizou a falar a sós com ele e me levou até a cela da solitária onde ele estava confinado, depois de ter aberto um corte enorme na cabeça de um garoto com a bandeja do almoço. Quando entrei no cubículo tão familiar, o garoto estava deitado no chão, os pés apoiados na parede e sequer se moveu para olhar quem tinha entrado. Tive que me esforçar para não rir, pois me reconheci de imediato.

Se for outro assistente tentando me fazer entrar pro grupo idiota de terapia, pode ir embora que já disse que não estou interessado – Thomas disse sem desviar os olhos da parede suja.
- Não sou assistente social e não entendo nada de terapia de grupo. Sou auror.
- Ah, o tal auror que quer nos ensinar boas maneiras – ele falou com deboche e o guarda reagiu incomodado, mas fiz sinal de que estava tudo bem – Não estou interessado também.
- Não queremos ensinar boas maneiras a ninguém, você já tão gentil, não precisa disso.
- Auror com senso de humor, gostei – ele me encarou pela primeira vez, mas ainda tinha uma expressão desinteressada – Mesmo assim, não, obrigado.
- Você se acha um valentão, não é? – disse no mesmo tom de deboche dele – Fica aqui na solitária, resistindo, e a cada vez que volta ganha mais respeito dos outros garotos. Sei como é sentir esse poder.
- Ah qual é, agora vai querer bancar o que acha que sabe como é viver aqui? Esse papo não cola, porque vocês não sabem de nada.
- É ai que você se engana. Já estive exatamente onde você está, deitado num chão como esse, cheio de atitude, fingindo que não estava nem ai pra nada, mas a verdade era que tudo que mais queria era sair sem precisar fugir e não ter que voltar mais. Fui amparado por pessoas que se importavam comigo quando sai e nunca mais voltei.
- Bom, é aí que vemos a diferença. Eu não tenho quem me ampare, estou preso nesse buraco até completar 18 anos.
- Então por que não levanta a bunda desse chão e vem conosco? Se conseguir se sair bem no projeto, não precisará ficar aqui até os 18 anos. Vai sair tendo para onde ir, e uma vaga garantida na Academia. Mas se prefere passar mais 3 anos aqui embaixo...

Virei de costas e já fazia menção de sair quando Thomas levantou, batendo a sujeira da roupa. Olhei para ele outra vez e ele me encarou de cima a baixo, ainda desconfiado, depois lançou um olhar para o guarda que o observava atento e estendeu a mão.

- Ok auror, o que tenho que fazer pra sair daqui?

ººººº

- Ei Mike, vigilância constante!

Um raio azul cortou a sala e ricocheteou na parede quando Mike Sullivan abaixou a tempo de desviar do feitiço lançado por Thomas. Shannon cruzou a sala invocada e tomou a varinha de sua mão, lhe lançando um olhar de censura. Thomas apenas riu e deu de ombros, enquanto Walter ria vendo Mike no chão.

- Outra gracinha dessas e vai ser o único a continuar com a varinha confiscada, Tommy – avisei me juntando a ela no centro da sala – Isso aqui não é brincadeira. Se não forem levar o programa a sério, tem um monte de outros garotos que querem estar aqui no lugar de vocês.
- Não, vamos levar a sério! – Walter se alarmou e deu um soco no braço de Thomas – Ele não vai mais fazer isso.
- Ótimo. Vocês lembram as condições para continuar, não é? – Rachel perguntou – Suas notas terão que melhorar, uma abaixo de A e estão cortados. E também sem mais brigas. Se passassem menos tempo envolvidos em confusões no refeitório, teriam mais tempo para estudar.
- Estudar é um saco – Mike parou ao lado de Walter ajeitando os cabelos. Ele era menor que os outros dois e mais franzino, mas não menos encrenqueiro – É uma perda de tempo. Somos bruxos, podemos ter o que quisermos nas mãos.
- Ah é isso que você acha mesmo? – Eric o agarrou pela camisa e os outros dois se assustaram. Mike o encarou e confirmou – Vem até aqui.

Eric arrastou Mike até o corredor e o seguimos, até que pararam em frente a um enorme quadro que ficava no hall de entrada. Era um mosaico dos maiores aurores do mundo bruxo e suas conquistas. Ele ia apontando para os nomes dos aurores e perguntando quem eram e, curiosamente, Mike soube responder todos. Eric então começou a apontar os nomes dos bruxos das trevas capturados por aqueles aurores e ele não reconheceu nenhum nome, exceto Voldemort.

- Sabe por que você não reconhece nenhum desses nomes? – Mike não respondeu – Porque eles não são ninguém! Eram como você, pensavam que tinham o mundo nas mãos por serem bruxos. E agora estão todos mortos.
- Ok, chega – me aproximei e afastei Mike de Eric, vendo o garoto começar a se assustar de verdade – Já entendeu a mensagem, não é? – e ele assentiu, sem tirar os olhos arregalados de Eric – Vamos voltar pra sala.

Os três nos seguiram de volta pelo corredor e passaram o resto da aula do dia sem dizer quase nada. Acho que Eric tinha conseguido o que queria.

ººººº

Março de 2003

O começo do programa foi difícil, éramos quatro futuros aurores tentando dominar três adolescentes rebeldes e sem medo de nada nem ninguém, mas com o passar do tempo os garotos foram entrando na linha. Foram muitos gritos, estresses, punições e vez ou outra brigas violentas entre eles, mas agora os três já nos obedeciam sem que precisássemos apartá-los das brigas com um feitiço. Dos três, Mike era o mais esforçado. Por ser o mais franzino, estava sempre tentando superar os colegas. E era também o que mais esperava ter um lugar para onde ir que não fosse sua própria casa, não queria voltar para as mãos dos pais viciados.

O treinamento era básico, mas estava funcionando. Eles tinham um programa de treinamento físico quase militar, que servia para ensiná-los disciplina, e aula de duelos todos os dias. Dávamos a eles a oportunidade de praticar os feitiços que aprendiam nas aulas, mas que eram apenas teóricas, e ensinávamos alguns outros. E duas vezes por semana eles tinham aulas básicas das matérias da Academia, como rastreamento, vigilância e esconderijo. Hoje seria o dia da nossa segunda avaliação do desempenho deles, na primeira todos conseguiram elevar as notas para A, mas não passavam disso. Quando chegamos à sala os três já estavam lá, debruçados em cima da mesa, tão concentrados que sequer nos ouviram. Shannon me cutucou com um sorriso no rosto, apontando o que estava prendendo a concentração deles: livros de magia.

- Ei meninos, o que estão lendo? – Rachel perguntou sentando ao lado de Walter.
- Esse feitiço do patrono... – Walter falou apontando a ilustração no livro – Vamos aprender? Vocês vão nos ensinar, não é?
- É, podemos pensar no caso de vocês, se mostrarem que merecem – Eric falou e na mesma hora Mike saltou do banco com uma pasta na mão, me entregando.
- Podem começar a nos ensinar – ele disse presunçoso e abri a pasta. Eram os relatórios de notas dos três, e não havia nenhuma abaixo de EE.
- É isso ai, seus pivetes – Eric estendeu a mão e os três bateram – Acho que isso pede um feitiço Patrono. Vamos pro tatame!
- O feitiço não é nenhum bicho de sete cabeças, é apenas um feitiço que requer concentração para ser executado – Shannon começou a explicar e os três apertavam as varinhas nas mãos, ansiosos – Para conjurar um Patrono, vocês precisam ter em mente uma lembrança feliz.
- Um Patrono é um tipo de energia positiva, uma projeção do que o dementador se alimenta: esperança, felicidade ou desejo de sobrevivência. E por ser apenas uma projeção, o dementador não pode tirar isso dele, por isso não pode afetá-lo – expliquei quando eles não pareciam entender o motivo de precisarem de uma lembrança feliz – Por isso o feitiço não funciona a menos que você esteja concentrando todas as suas forças em uma lembrança feliz.
- Vamos praticar primeiro, então mantenham as varinhas pata baixo e repitam comigo – Rachel ordenou e eles obedeceram – Expecto Patronum!

Rachel fez os garotos repetirem o encantamento durante muito tempo, até que todos os três estivessem usando a pronuncia correta, mas antes de deixar que tentassem executá-lo, pediu que gastassem alguns minutos procurando pela lembrança feliz que os ajudaria. Usando legilimência pude ver Mike concentrado em uma festa de aniversário com ele ainda pequeno, abraçado a uma senhora que pelas feições só poderia ser sua avó. Walt sorria, mentalizando a imagem de um parque, com sua versão de aproximadamente 10 anos brincando de futebol americano com um homem ruivo igual a ele, seu pai. Ambos pareciam ter escolhido sua memória, mas não conseguia ver nada na mente de Tommy. Era impossível que ele soubesse oclumência, mas antes que pudesse forçar alguma coisa, Shannon os trouxe de volta a realidade, autorizando que começassem a praticar o feitiço.

- Isso Walter! – Shannon o incentivou com entusiasmo ao ver uma luz prateada se iluminar na ponta de sua varinha – Está quase lá, se concentre mais e vai conseguir!
- Boa, Wally! Está quase tomando forma! – Mike acabou se desconcentrando ao ver que a luz prateada de Walt formava uma fumaça borrada e a sua se apagou – Ah, droga. Desculpe, me animei demais. Expecto Patronum!
- Ai! – ouvi Tommy gritar de dor e soltar a varinha no chão, levando a mão ao pulso imediatamente – Acho que torci o pulso.
- Venha até aqui, vou dar uma olhada – e Rachel o guiou para fora do tatame.

Continuei monitorando Walter e Mike, que progrediam lentamente, mas sem tirar os olhos de Tommy. Rachel analisou seu pulso e parecia não ter encontrado nada, mas ele dizia que estava doendo e não voltou para o exercício. Deixei que apenas observasse por quase meia hora, até que fui até ele.

- Machucou o pulso, então? – perguntei vendo-o apertá-lo com uma força exagerada. Ele fez que sim com a cabeça, sem me encarar – Por que não diz qual é o problema de verdade? Mentindo não posso ajudar.
- Não posso conjurar um patrono – ele disse em voz baixa, depois de algum tempo em silêncio.
- Como não? Claro que pode, é só se concentrar e se dedicar que vai conseguir. Você é ótimo com feitiços, Tommy.
- Mas eu não tenho nenhuma lembrança feliz! – ele explodiu de repente, mas a agitação na sala não fez ninguém ouvi-lo. Ele diminuiu a voz outra vez – Não posso conjurar um patrono porque não tenho nada feliz em que me concentrar.
- Você não se lembra de nada da sua infância que possa ajudar? Mike está usando uma lembrança de quando tinha menos de 6 anos.
- Hum, deixe-me ver o que posso usar... – Tommy fez uma cara debochada, como se estivesse se esforçando para lembrar as coisas – Até meus 5 anos todas as minhas lembranças são de estar sozinho em casa, enquanto meus pais trabalhavam fora ou sei lá o que faziam o dia todo na rua. Depois que eles desapareceram, morei nas ruas e tentava sobreviver todo dia, então não, acho que não vou conseguir usar nada.
- O que aconteceu com seus pais?
- Eles me deixavam sozinho todos os dias, trabalhavam fora, eu acho – ele deu de ombros – Às vezes esqueciam de deixar comida, mas sempre voltavam. Só que um dia não voltaram mais. Não sei se morreram ou foram embora e me deixaram pra trás, mas lembro que fiquei aliviado no dia que não voltaram, sabia que poderia sair pra procurar o que comer sem ser punido depois.
- Sinto muito por isso, mas se quiser, podemos tentar localizar seus pais. Se você é bruxo, é muito provável que eles também sejam e assim fica mais fácil.
- Obrigado, mas não – me espantei e ele me encarou firme – Se você localizá-los e me disser que estão mortos, vai doer. Mas se encontrá-los e disser que estão vivos, vai doer ainda mais.
- Entendi. Mas não quero que desista de praticar o feitiço, porque você não está mais sozinho no mundo, tem a todos nós e daqui pra frente terá muitas lembranças felizes. Tenha um pouco de paciência e vai ver que dará certo. Promete que não vai desistir? – ele assentiu com a cabeça e sorriu – Então levanta desse banco e vá se juntar aos seus amigos.

Tommy girou a varinha entre os dedos como costumava fazer e se juntou aos outros dois no tatame. Ele se esforçou durante um bom tempo, até que de repente uma luz prateada saiu da ponta de sua varinha, ainda que fraca. Ele logo se animou e passou a se empenhar ainda mais, enquanto eu me concentrava em ver o que ele estava vendo. E a imagem que vi em sua memória não poderia ter me dado mais certeza de que estávamos fazendo a coisa certa: Tommy tinha em mente exatamente aquele momento, em que estava cercado por pessoas que gostavam dele e queriam seu bem. Agora mais do que nunca sabia que aquele era um caminho que eu queria continuar seguindo.

sexta-feira, 2 de abril de 2010 19:36 Postado por Micah Sanders Wade 3 comentários
Nova York, Novembro de 2002.

Estávamos assistindo a nossa última aula teórica de Vigilância e Rastreamento antes do feriado de Ação de Graças e estava tão focado em chegar em casa e arrumar as malas para viajar para Boston que não conseguia prestar atenção. Um ano já havia se passado desde que descobri que tinha outra família e as coisas estavam bem diferentes.

Pelo menos uma vez por mês eu aparatava na casa dos meus avós, para passar o fim de semana, e Michael e Andrea sempre levavam Connor até lá para passar o maior tempo possível com os tantos primos que ganhamos. Ele já estava muito bem enturmado com Boston, Byron e Casey, que tinham idades próximas.

Não demorou muito para descobrir que minha família inteira era fascinada por esportes e nós passamos por uma verdadeira lavagem cerebral, até que finalmente eles conseguiram converter Connor e eu a dois fãs fiéis dos Boston Red Sox e New England Patriots, mas tiveram zero sucesso em nos fazer torcer pelos Celtics. Ninguém substitui os Lakers e agora sempre que tem jogo dos dois times, a casa vira um campo de batalha.

Era o segundo feriado de Ação de Graças que passaríamos lá, e dessa vez além de Evie, Michael, Andrea e Wes, também se juntariam a mesa Shannon, Dario e Georgia. Estava ansioso para chegar lá e rever todo mundo e quando ouvi o sinal tocar fui o primeiro a levantar, mas a voz grave do professor me chamou a atenção e parei com a mochila a meio caminho do ombro.

‘Não saiam ainda, tenho um aviso importante’ E todos sentaram sem contestar ‘Como todos estão cientes, esse é o ano da formatura. Aqui na Academia de Aurores de NY, para se formar, os alunos precisam fazer um trabalho, que chamamos de Projeto de Conclusão de Curso’ Ele saiu de trás da mesa e circulou pelas carteiras, distribuindo um guia de bolso ‘O objetivo do trabalho é mostrar os benefícios que a Academia pode trazer. Nesse guia vocês encontrarão todas as regras do projeto, o que podem e não podem fazer, e mais importante, o que devem e o que não devem fazer. Vocês devem se dividir em grupos de 3 ou 4 pessoas, e devem fazer o acompanhamento do projeto comigo. A apresentação deverá ser em Maio. Bom feriado para todos e boa sorte’

‘Vamos fazer juntos, certo?’ Eric perguntou enquanto saiamos da sala junto com o resto da turma e Shannon, Rachel e eu assentimos ‘Ótimo, então vamos tentar pensar em algo durante o feriado e segunda-feira a gente se reúne pra ver se alguma idéia pode ser aproveitada. Bom feriado pra vocês’

Eric se despediu e desapatarou, seguido por Rachel, ambos iam para a casa de seus pais. Voltei com Shannon às pressas para casa e já estávamos todos nos esperando de mochilas prontas. Era mais um dia de Ação de Graças na casa dos Walker.

ºººººº

O feriado não poderia ter sido melhor, mas passou rápido demais. Quando comecei a relaxar, me vi de volta a Nova York sem nenhuma idéia para o projeto da Academia. Fui para a aula com Shannon na segunda-feira tentando pensar em alguma coisa no caminho, mas sem sucesso. Eric e Rachel já estavam no refeitório tomando café quando chegamos e pelas expressões ansiosas, tinham algo sobre o projeto para apresentar.

‘Desculpa gente, mas não consegui pensar em nada, me distrai demais’ Já me desculpei enquanto sentava à mesa com eles.

‘Pela cara da Shan, ela também não pensou em nada’ Eric falou rindo ‘Somos três então’

‘Bom, para a sorte de vocês, minha família não é nada divertida e tive bastante tempo livre para pensar no projeto’ Rachel tirou uma pasta da mochila e jogou em cima da mesa ‘Não pensei em um nome ainda, mas a idéia é a seguinte: nós vamos rastrear adolescentes bruxos em reformatórios, que não tenham uma educação mágica como deveriam ter, e dar isso a eles aqui, na Academia’

‘Como exatamente faríamos isso?’ Perguntei interessado ‘Seriam só os problemáticos?’

‘A idéia é focarmos os mais problemáticos, os que julgam “caso perdido”, e reverter isso’ Rachel explicou tirando um papel de dentro da pasta e nos entregando ‘Já foi comprovado que atividades esportivas incentivam as crianças a sair das ruas e crescer na vida, então tudo que temos que fazer é provar que a Academia de Aurores pode fazer o mesmo’

‘Sabe que isso pode dar certo?’ Shannon leu rápido o papel que tinha na mão e sorriu animada ‘Quantas crianças e adolescentes bruxos devem ter espalhados por ai, em orfanatos, sem ter idéia do que realmente são?’

‘Bom, eu adorei a idéia e por mim, fazemos isso mesmo’ Eric apoiou e assentimos de imediato ‘Fechado então, vamos botar esse projeto em pratica!’

ºººººº

Depois de uma semana, onde definimos metas para o projeto, organizarmos todas as idéias e apresentamos ao nosso coordenador, recebemos sinal verde para dar continuidade a ele e começamos nossa busca por uma assistente social que pudesse ajudar na parte onde teríamos que conseguir uma autorização para trabalhar dentro de um reformatório, com adolescentes problemáticos.

A busca foi mais fácil do que pensávamos. Demos a sorte de encontrarmos Sandra, uma aluna do ultimo período de Assistência Social da NYU precisando desesperadamente de alguém que a ajudasse em um projeto complicado de localização de crianças bruxas perdidas em orfanatos trouxas, para dar a elas um lar apropriado. Ela nos contou do projeto temendo nossa reação a menção de bruxos, mas ficou aliviada ao ver que tinha contado para as pessoas certas. Unimos forças e enquanto ela nos ajudaria nas negociações com o reformatório, nós a ajudaríamos a identificar as crianças e achar famílias para elas.

Havíamos escolhido o reformatório bruxo Sunnyvale para trabalhar. Foi preciso uma conversa demorada com o diretor, sempre com a ajuda de Sandra, mas ele nos autorizou a fazer uma experiência com apenas 3 garotos. Se em duas semanas o programa desse resultado, ele nos autorizaria a trabalhar com quantas quiséssemos. Não era uma tarefa fácil, selecionar apenas 3 adolescentes dentre as centenas que moravam no reformatório, e isso estava tirando meu sono. Precisávamos entregar os nomes no dia seguinte e continuava sentado no chão do quarto, com fichas espalhadas ao meu redor, sem ter chegado a uma conclusão.

‘Micah?’ Evie acordou quando derrubei umas das pastas e fez barulho ‘Por que ainda está acordado? São 2 da manhã’

‘Preciso escolher 3 garotos e não consigo me decidir, não consigo dormir’

‘Escolha qualquer um, faz diferença?’ Ela bocejou e deitou outra vez ‘Só venha dormir logo e apague esse abajur’

‘Claro que faz diferença! Não posso simplesmente sortear um, esses garotos precisam de ajuda e não posso brincar com coisa seria!’ Me exaltei um pouco, mas logo me arrependi ‘Desculpe, estou cansado, mas já vou dormir’

‘O que aconteceu?’ Ela levantou outra vez, e seu tom de voz era de quando não ia desistir enquanto eu não falasse ‘Desde que começaram a trabalhar nesse projeto, você está estranho. Por que é tão importante escolher os garotos certos?’

‘Você não entende o que esses garotos e garotas passam lá... Se eles não tiverem uma válvula de escape, algo melhor com que contar, quando completarem a maioridade e saírem...’

‘Me explique então, se eu não entendo. O que eles passam lá? Como sabe tanto sobre isso?’ Ela fez sinal para me sentar ao lado dela na cama e deixei as pastas de lado, indo até ela.

‘Eu sei o que acontece porque já estive em um reformatório’ Falei de cabeça baixa e mesmo sem estar olhando pro seu rosto, sabia que ela tinha reagido espantada, pois imediatamente passou a mão em meu pescoço ‘Foi logo depois que minha avó morreu’

‘Por que você foi mandado pra um reformatório? Você já não estudava na escola de magia quando ela morreu?’

‘Sim, mas eu não reagi muito bem quando soube da morte dela, causei alguns problemas quando soube que seria mandado para um orfanato com Connor’ Continuava de cabeça baixa enquanto falava ‘Não aceitava a morte dela, me rebelei contra o único tio ainda vivo porque ele não quis nos acolher e fiz muita besteira’

‘Que tipo de problemas você pode ter causado sozinho, para te mandarem pra lá?’ Ela perguntou já sabendo parte da resposta.

‘Não estava sozinho, Josh ficou do meu lado o tempo todo, ajudando nos estragos. O mais leve foram algumas pichações no muro do Ministério da Magia da Califórnia, mas foi a gota d’água, pois fomos presos por isso’ Ri um pouco, mas mais de nervoso do que de divertimento ‘Josh, como sempre, escapou da punição, mas eu não tinha mais quem me defendesse e fui mandado para um reformatório bruxo, Coyote Falls. Aquele lugar era uma prisão, horrível. Passei um ano lá, e foi o pior ano da minha vida’

‘O que acontece lá?’ Evie agora segurava minhas mãos ‘O que fizeram com você?’

‘Tudo de ruim que você possa imaginar, não ficávamos um único dia sem levar um surra dos guardas. Se você não dá um motivo, eles arrumam um. Tinha um professor que ensinava feitiços, que nos fazia esticar os braços para ele bater com uma regra de madeira pesada. A marca não saia por dias’ Olhei para ela pela primeira vez desde que comecei a falar ‘O que fazem com as pessoas nesses lugares é desumano. Até onde sei, esses garotos podem sair de lá para serem os próximos Voldemortes, motivos não lhe faltam. Precisamos dar a eles outro motivo pelo qual agüentar o tempo que precisam ficar lá. Elas precisam saber que não existe só o caminho que é ensinado na base da força lá dentro, aqui fora. Eu tive a sorte de sair de lá e ter amigos com quem contar, mas a maioria não tem ninguém’

‘Por que você nunca contou que já esteve num lugar como esse?’

‘Não é um assunto que gosto de trazer a tona’ Forcei um sorriso e ela me beijou, encostando a cabeça em meu ombro ‘Não se preocupe, nunca sofri nenhum tipo de abuso, além de surras mesmo. Continuo virgem nesse aspecto, e vou morrer assim’

‘Não tem graça’

‘Preciso rir dessas coisas, meu amor. Humor foi o que me fez sobreviver a isso tudo, é minha válvula de escape’ Beijei ela outra vez e levantei da cama ‘Preciso escolher os garotos certos, o programa precisa dar resultado’

‘Bom, então me deixe ajudar, duas cabeças pensam melhor que uma’ Ela levantou da cama e estendi a mão.

Passamos a madrugada em claro, lendo e relendo as fichas que foram entregues a mim, e o dia já começava a clarear quando finalmente tínhamos decidido por três garotos para darmos inicio ao trabalho. Os três tinham 15 anos, nenhuma família a quem recorrer, e eram constantemente enviados para a solitária por tentarem fugir. Eram os garotos perfeitos para trabalhar, pois eu tinha certeza que obteríamos os resultados esperados. O que eu pudesse fazer para ajudar esses garotos, eu faria.

Depois que Norma foi embora e contei aos outros o que tinha acabado de acontecer, saímos para comemorar o aniversário de Georgia como planejado, mas minha cabeça já estava em outro planeta. Não conseguia pensar em mais nada. O picnic que eles montaram no meio do Central Park durou a tarde toda e ouvia as risadas escandalosas de Dario se sobressaindo às vozes já altas de Georgia, Shannon e Evie, que emendavam uma bobagem na outra, mas não conseguia participar da brincadeira.

‘Você está bem?’ Evie passou a mão na minha nuca, embolando os dedos nos meus cabelos.

‘Só um pouco distraído’ Puxei sua mão para frente e a beijei ‘Desculpe não estar conseguindo aproveitar o dia com vocês’

‘Tudo bem, hoje você tem o direito de estar aéreo’ Ela sorriu pra mim do jeito que eu adorava ‘No que está pensando?’

‘Ah, é o famoso “e se”. Sempre volto a ele’

‘Você tem uma família que passou quatro anos procurando por você. Não os faça pagar por algo que não têm culpa. O que Emily fez a você e Connor não é culpa de mais ninguém’ Evie me olhava com firmeza, mas depois sorriu carinhosa e afagou meu rosto ‘Você sempre disse que queria uma família grande, pode começar agora. Dê essa chance a si mesmo. Ligue pra ela. Está estampado em seu rosto que quer conhecê-los’

‘Sou tão transparente assim?’ Admiti e ela riu.

‘Não, mas eu conheço você melhor do que pensa. E você não está sozinho, vou ficar ao seu lado o tempo todo’

Concordei com a cabeça sem dizer nada e Evie se aproximou mais para me abraçar. Puxei o cartão que Norma havia deixado do bolso e o encarei por um tempo, antes de puxar o celular do bolso e discar o número impresso no papel.

‘Alô, Norma?’ Disse quando ela atendeu ‘Sou eu, Micah’


ºººººº


Em uma conversa rápida por telefone, concordei em acompanhar Norma para um Brunch na manhã de domingo. Evie estava disposta a me acompanhar se eu quisesse, mas depois de pensar por um tempo achei melhor ir sozinho. Ela já estava me esperando na frente do restaurante quando cheguei e um sorriso radiante se espalhou por seu rosto quando me viu. Minhas mãos suavam frio enquanto me aproximava e nos guiavam até nossa mesa. Não conseguia me lembrar da última vez que me vi tão nervoso assim.

‘Fiquei muito feliz quando você ligou’ Ela quebrou o silêncio quando sentamos à mesa.

‘Desculpe pelo modo como agi ontem, dizendo que nunca deixei de ter família’ Comecei a falar ‘Acho que fui um pouco grosseiro’

‘Não precisa se desculpar. Sei que você tem uma família, quis apenas dizer que você tem mais uma família, não apenas eles’

‘Eu entendi isso depois, é que foi meio que um choque’ Disse mais relaxado ‘Esse assunto é um pouco delicado pra mim, mas estou disposto a conversar’

‘E eu estou aqui para responder a todas as perguntas que tiver, mas antes gostaria de fazer uma’ Assenti com a cabeça e ela continuou ‘Emily disse que teve dois filhos, mas nunca conseguimos encontrar nada sobre o outro. Ela mentiu?’

‘Não, eu tenho um irmão de 9 anos, Connor, mas ninguém pode encontrá-lo a menos que eu diga onde ele está’ Expliquei e ela pareceu se assustar um pouco, então tentei amenizar ‘Ele só tinha 4 anos quando nossa avó morreu e passou por três lares adotivos antes de ficar com Michael e Andrea, não queria que ele se magoasse com mais nada, então nosso pai, que é do FBI, cuidou para que ele se mantivesse sempre seguro e um pouco fora do radar’

‘Para que Emily e Ryan não o encontrassem, caso um dia tentassem?’ Ela perguntou e achei mais seguro mentir, então confirmei. Não podia entrar no assunto Reis & Sombras ‘Entendo, foi para o bem dele’

‘Não vou impedi-la de conhecê-lo, mas gostaria de conhecer todos antes de contar a ele. E quero fazer isso pessoalmente, então vou precisar viajar, ele não mora mais nos Estados Unidos’

‘Isso significa que quer conhecer sua outra família?’ Um sorriso iluminou seu rosto no mesmo instante e foi impossível não sorrir de volta ‘Ah Micah, você acaba de tirar um peso do meu coração’

‘Quantos vocês são?’ Agora já estava mais a vontade e menos nervoso.

‘Ah, a família Walkers é grande. Liam, seu avô, e eu tivemos quatro filhos e cada um deles teve dois filhos, e nessa contagem estou incluindo Emily, você e seu irmão. Eu sou trouxa, como vocês dizem, mas seu avô é bruxo. Ele era um auror, mas agora já está aposentado, graças a Deus!’ Ela parecia realmente aliviada e ri ‘A mais velha é Emily, então nossa segunda filha é sua tia Lauren. Ela é arquiteta e casada com um advogado, Kurt Moretz, e eles têm duas filhas. A mais velha é Heather, de 15 anos, e por enquanto a única dos netos a já estudar magia. Ela estuda em Hogwarts, é da Lufa-Lufa. A menor é Casey, de 9 anos. Nenhum de nossos filhos jamais apresentou sinais de magia, apenas os netos. Segundo Liam, os dois mais velhos depois de Heather já apresentaram sinais de que são bruxos, mas os outros ainda são muito novos’

‘Pode acontecer de pular uma geração, mas atingir a seguinte por inteiro’

‘É o que seu avô diz’ Ela concordou comigo e continuou ‘Nosso terceiro e único filho homem é o Jonathan. Ele é publicitário e também casou com uma advogada, Amy. Eles tem dois filhos, Boston de 10 anos e Byron, de 7, o nosso arteiro oficial. E nossa mais nova é Megan. Megan é médica obstetra e se casou com outro médico, mas pediatra, Jason. Eles tem um casal de gêmeos de 4 anos, Zachary e Kaley, os caçulas de toda a família’

‘Uau, são muitos mesmo’

‘Somos muito mais, tenho 4 irmãos e Liam tem mais 3, mas esses você pode conhecer em uma outra ocasião’ Ela riu.

Conversamos por toda a manhã e uma parte da tarde, transformando o Brunch em almoço. Quanto mais o tempo passava, mais a vontade eu me sentia perto dela. Combinamos que eu iria até Boston no próximo sábado, com Evie, e quando nos despedimos na porta do hotel onde ela estava hospedada ela pediu para me dar um abraço. Foi a primeira vez, desde a morte da minha avó Morgana, que senti uma parte do vazio deixado por ela ser preenchido. Era uma sensação muito boa.

Nova York

Agosto de 2001


Nosso primeiro ano em Nova York havia sido atribulado. Com aulas exaustivas tanto para Shannon e eu quanto para Evie, Dario e Georgia, não sobravam muitas horas de lazer para conhecer melhor a cidade. Conhecíamos o essencial, que se limitava a Manhattan e a área que rodeava o Central Park, mas com o fim do período obrigatório de moradia nos dormitórios das academias, tivemos a chance de percorrer todos os cantos da cidade em busca de um novo lugar para morar.

Nossa busca não foi fácil. Alojados provisoriamente no pequeno apartamento de Vivian, consultávamos todos os dias os classificados dos jornais e visitávamos inúmeros imóveis durante o mês de Julho, mas nada parecia ideal para abrigar cinco pessoas. Shannon e Dario já começavam a considerar alugar os dormitórios por mais um ano, quando Georgia encontrou uma luz no fim do túnel. Uma casa antiga de três andares no Brooklyn, com três quartos. No anuncio dizia que precisava de reforma, mas que a fachada estava em perfeitas condições.

Nossos amigos toparam o desafio de transformar aquele casarão da Família Addams, como Dario apelidou, em um lugar habitável e depois de um fim de semana inteiro de reforma, uma decisão de “pedra, papel e tesoura” onde ficou decidido que Evie e eu ocuparíamos o quarto do terceiro andar que tinha banheiro, Shannon iria dividir um quarto com Georgia e Dario ficaria um só para ele, ambos no segundo andar onde tinha mais um banheiro e muita bagunça para matar a saudade dos amigos, tínhamos uma nova casa para morar.

ºººººº

Setembro de 2001

O novo ano letivo já havia começado cercado de caos. Era uma terça-feira comum na Academia, mas as aulas foram interrompidas quando um estrondo assustador pode ser ouvido por quase toda Nova York. Saímos pra rua para procurar a fonte do barulho e vimos um avião se chocando com uma das torres do World Trade Center. O autor do estrondo ouvido foi outro avião, que se chocou com a outra torre.

Desde então a cidade vivia um momento critico, uma onde de caos e pânico se espalhava pelas ruas e todos viviam com medo. Todos tinham medo de andar de metro, visitar pontos turísticos e até mesmo shoppings, receando outro atentado. Eu não agüentava mais ficar preso dentro de casa e como era o fim de semana do aniversário de Georgia, combinamos de tirar da cabeça toda a tensão da semana e aproveitar o que prometia ser o ultimo sábado quente do ano.

‘Micah, que horas nós vamos voltar?’ Shannon apareceu na escada com o telefone na mão.

‘Não sei, Dario nem chegou ainda pra sairmos. Por quê?’

‘Minha mãe está surtando no telefone porque vamos passear na rua, quando tudo está um caos’ Shan fez uma careta e voltou a falar com a mãe no telefone, tentando acalmá-la.

‘Opa, opa, calma!’ A porta da sala abriu e Dario foi arrastado pra dentro por dois cachorros. Meu Pastor Alemão Han Solo e o Labrador de Evie, Thror ‘Vão, sumam! Estão livres!’

‘Por que você saiu com os dois ao mesmo tempo?’ Ri da careta cansada que ele fez, o rosto todo suado e vermelho.

‘Tente sair só com um e você vai se deparar com uma revolução canina!’

‘Vem Thor, vem Han, vamos pro quintal pra não bagunçar a sala que Georgia arrumou’

Ainda rindo dele, levei os cachorros pros fundos da casa antes que começassem a destruir os móveis. Apesar da lotação da casa, ninguém fez objeção quanto a trazermos os dois para Nova York e agora o nosso já pequeno quintal dos fundos estava menor ainda, ocupado por dois cachorros grandes e estabanados.

Quando voltei para a sala, Dario conversava com uma senhora de aparência gentil. Era até um pouco alta para a idade que aparentava, cabelos loiros e curtos e um sorriso tranqüilo. Ele fez sinal me chamando e me aproximei.

‘Micah, essa senhora veio procurar por você’ Dario falou quando parei ao seu lado ‘Vou deixar vocês a sós’

‘Vá se arrumar logo, as meninas já estão quase prontas’ Falei antes que ele sumisse pela escada e me virei para ela, indicando o sofá ‘Desculpe se não estou me lembrando da senhora. Já nos conhecemos antes?’

‘Não, ainda não tivemos o prazer de nos conhecermos’ Ela estendeu a mão para mim com um sorriso quase emocionado no rosto ‘Me chamo Norma Walker’

‘Muito prazer, Norma. Em que posso ajudar?’

‘Tenho um assunto delicado a tratar com você e não há uma forma mais suave para começar, então vou direto ao ponto. Eu sou sua avó’

Minha única reação foi encará-la sem dizer nada. Como ela era minha avó? Minha avó se chamava Morgana, não Norma, e havia falecido há quase 5 anos. Continuei a encarando sem dizer nada, até que me lembrei que minha mãe, quem quer que ela fosse, também tinha uma mãe.

‘Sou mãe da sua mãe, Emily’

‘É, recordo vagamente do nome dessa ai’ Cortei o que ela dizia ao ouvir “sua mãe Emily” ‘Mas minha mãe se chama Andrea’

‘Entendo sua revolta em relação a minha filha e antes que a transfira para mim, deixe-me contar o meu lado na historia. Emily saiu de casa assim que completou 18 anos, fugiu com um rapaz chamado Ryan. Ficamos sem noticias dela desde então, até que em 98 ela reapareceu em casa, precisando de dinheiro. Nos dois dias em que ficou na minha casa, contou que tivera dois filhos com Ryan e que os meninos haviam sido criados pela avó paterna, depois desapareceu outra vez sem dizer mais nada’ Ela fez uma pausa e seus olhos começaram a se encher de lagrimas, mas ela as segurou ‘Desde então minha família não teve mais paz, temos tentado encontrá-los de todas as formas possíveis, até contratamos um detetive particular. Já tínhamos seu nome, sabíamos que se formou em Durmstrang e que pretendia ser auror, até vimos uma foto sua na formatura, mas ninguém sabia onde estava morando. Até que essa semana, em uma foto do jornal sobre o atentado as torres gêmeas, vi uma foto sua e soube que estava mais perto do que imaginávamos. Você é igual ao seu avô quando tinha a sua idade, reconheceria até mesmo se não tivesse visto uma foto antes’ Continuei calado e ela emendou ‘Você tem uma família, Micah’

‘Eu tenho uma família, sempre tive’ Disse finalmente e ela assentiu.

‘Sei que isso é muita informação ao mesmo tempo, mas gostaríamos que, quando estiver pronto, venha conhecer sua outra família’

‘Desculpe, mas não posso resolver isso agora’ Levantei abruptamente do sofá e ela se assustou ‘Estávamos de saída, é aniversário da minha amiga e vamos comemorar’

‘Não precisa decidir nada agora, pense com calma depois’ Ela levantou do sofá também e deixou um cartão na mesa ‘Vou estar na cidade até terça, minha casa fica em Boston. Se quiser conversar, é só me ligar’

Com o mesmo sorriso gentil de quando chegou, Norma olhou para mim uma última vez e caminhou até a porta, saindo sem dizer mais nada. Não sei quanto tempo fiquei encarando a porta fechada, mas quando Evie me segurou pelo braço, já estavam todos prontos me esperando pra sair e querendo saber o que tinha acontecido. E eu não sabia nem como começar a explicar.