Restavam apenas 2 dias em Orlando antes de pegarmos estrada até Miami e metade do grupo optou por voltar aos parques que mais gostaram, mas não fui com eles. Era dia de folga do Micah e íamos sair, e enquanto esperava ele me buscar, conversava deitada no chão do quarto com Pilar e Marta, que também não quiseram sair.
‘Ele está muito esquisito’ Pilar comentou deitada de bruços ‘Nos dá bom dia, sorri, conversa. Parece até que está... Se divertindo!’ E rimos da entonação dela
‘Meu irmão diz que ele está mudando’ Marta parou de rir e falou séria
‘Isso é verdade, pois conversamos bastante da estação até a casa do vovô, ele estava bastante falante no carro’
‘Tem alguma coisa errada, não é possível esse menino mudar da água pro vinho!’ Pilar ainda soava perturbada e rimos. Helena pigarreou no canto do quarto. Nos calamos e olhamos para ela.
‘Só porque uma pessoa está tentando mudar para melhor não significa que alguma coisa está errada’ Comentou com desdém nos olhando atravessado por cima do livro
‘Ora, ora... Ela tem língua!’ Pilar provocou, mas não ri e a cutuquei
‘Do que está falando, Helena?’ Perguntei sem tom de deboche e ela fechou o livro
‘Dario está tentando fazer parte da nossa família, mas ninguém parece se importar. Ele não é mais aquele garoto esnobe, como Hanna ainda é. Ele mudou muito e duvido que tenham notado, mas ele nem fala mais direito com ela. Os “super-gêmeos”, como vocês gostam de dizer, não existem mais. Cada um escolheu o seu lado, e Dario quer fazer parte do nosso, entrar nesse circulo de primos que é tão unido e do qual ele nunca fez parte. Mas se uma pessoa tentar mudar é logo tratado como um esquisito e ninguém ao menos tenta entender o porquê’
‘Ninguém aqui está julgando ele, só estávamos conversando’ Marta se defendeu
‘Afonso e eu somos os únicos que conversamos com ele, nenhum de vocês dá abertura para que ele mostre que mudou’ Helena rebateu ‘Alguma vez desde que chegamos aqui vocês já chegaram nele e perguntaram como ele está?’ Riu ‘Não, é claro que não. Não é a toa que ele acha que nenhum dos primos o quer por perto e que não tem com quem conversar’
‘Então é por isso que...’ Pilar pensou alto e a encaramos curiosas ‘No enterro da vovó ele era o mais abalado, de longe. Quando fui falar com ele, Dario não me deu bola e saiu andando, mas antes disse algo como “não tenho mais com quem conversar, ela era a única que me ouvia”. Vovó conversava bastante com ele, não é?’
‘Sim, ela sempre me dizia que Dario passava horas conversando com ela’ Comentei sem graça por estar rindo dele antes
‘Por que não experimentam dar uma chance a ele?’ Helena abriu o livro novamente ‘Conversem com ele, se aproximem. Podem se surpreender’
‘Da licença’ Ouvimos batidas na porta e era Dario ‘Evie, seu namorado chegou. É melhor descer depressa, tio Johann está indo para a sala agora’
‘Ok, obrigada’ Apanhei a bolsa da cama depressa e parei na porta ‘Ei Dario, vai conosco mais tarde no Pleasure Island? Vamos só Pilar e eu, Marta não entra’ Falei rindo e ela me olhou torto
‘Injusto, vou ter que ir a um jogo de basquete!’ Reclamou e Pilar a sufocou com uma almofada
‘Ah, claro, vou sim’ Respondeu pego de surpresa, mas parecendo satisfeito. Sorri.
‘Ótimo, até de noite!’
Sai do quarto e desci as escadas depressa. Ultrapassei tio Johann no meio dela e agarrei a mão de Micah o puxando para fora da casa antes que ele chegasse ao hall e começasse mais um inquérito.
~*~*~*~*~*~
Passamos a tarde toda na casa dos seus pais adotivos em Daytona Beach. Andrea, a mãe dele, é uma médica de pronto-socorro muito simpática. Michael, o pai, era escritor. A maioria de seus livros era de suspense e Micah parecia já ter lido todos mais de uma vez. Tinha também o Wes, outro filho adotivo deles da nossa idade. Wes era do Alabama e como ele mesmo gostava de dizer, um perfeito caipira. Passou o dia todo de jeans, cinto com fivela de cavalos, camisa branca, chapéu e meia. ‘Não tenho permissão de entrar com as botas sujas dentro de casa’, ele se justificou quando rimos do traje.
E claro, tinha também o mais fofo de todos, Connor. Ele era irmão de verdade de Micah, e logo que chegamos me brindou com uma pérola que vai me render provocações por um longo tempo. Segundo ele, a bola que me atingiu na Califórnia há um ano não foi acidental, mas sim Micah que pediu para ele me acertar. Esperei pacientemente até ter a oportunidade de cutucá-lo, e foi apenas quando já havia anoitecido, enquanto estávamos deitados na areia da praia conversando esperando a hora de ter que voltar para casa.
‘Quer dizer que fui nocauteada de propósito?’ Perguntei fingindo estar séria e ele acreditou, pois gaguejou para começar a falar
‘Não é bem assim, Connor tende a exagerar as coisas. Não pedi que ele a nocauteasse, apenas esbarrasse em você’
‘E posso saber por quê?’
‘Porque via você por todo o canto na Califórnia e a achei linda logo de cara, mas quando te vi pela 3ª vez em duas semanas, pensei: tenho que falar com aquela garota. Mas se chegasse abordando você do nada, ia me achar um convencido idiota’
‘Verdade, ia mesmo’
‘Tinha certeza disso, então pedi ao Connor para correr na sua direção e dar um esbarrão de leve, que ai ia lá e pedia desculpa por ele e puxava papo. Mas Connor é um estabanado, acabou nocauteando você’
‘Não só a bola me acertou com força como ele caiu por cima de mim. Foi violento’ Ri
‘Desculpa por isso, não era mesmo a intenção’
‘Tudo bem’ Me ajeitei na areia e deitei por cima dele ‘Valeu a pena’
‘Ô se valeu’ Ele me virou depressa me prendendo na areia ‘Foi a bola mais bem arremessada da minha vida’
Ele deu um sorriso sacana e beijou meu pescoço, não me deixando sair com o peso do seu corpo. Mas eu não queria ir a lugar algum.
~*~*~*~*~*~
Micah me deixou em casa minutos antes do toque de recolher imposto pelos meus tios, mas nem ao menos tirei a bolsa do ombro. Pilar e Dario já estavam prontos para sairmos e notei que tio Heinrich e tia Sofia também estavam arrumados para irem conosco. Os demais iam assistir a um jogo de basquete do Orlando Magic. Pleasure Island era uma área de Downtown Disney repleta de boates e escolhemos a BET SoundStage Club para aproveitar a noite. Já estávamos dançando há horas quando veio o choque. Nossos tios sumiram e Dario puxou um maço de cigarros do bolso e acendeu um, enquanto ocupava a outra mão com uma bebida cheia de fumaça. Pilar me puxou pela mão para o outro lado.
‘Nunca achei que fosse dizer isso, mas Helena tinha razão. Esse menino ai é outra pessoa!’
‘Estou vendo, porque o Dario de antes levaria um tapa do tio Ivo se fumasse ou bebesse’ Disse ainda chocada olhando para ele ‘Quando começou a revolução?’
‘Não sei, mas conversei com ele essa tarde e ele até que é divertido’
‘Meninas, venham depressa!’ Dario envolveu os dois braços em volta dos nossos pescoços rindo ‘Tio Heinrich acabou de subir no palco e está imitando o DJ com passos de Hip Hop’
‘Merlin, por que ele sempre me envergonha quando saímos juntos?’ Pilar ergueu os braços, cansada, e rimos enquanto a seguíamos até o palco
Abrimos caminho entre as pessoas e não foi difícil encontrá-los. Tia Sofia se dobrava de rir na frente do palco enquanto nosso tio dançava em cima dele, totalmente fora do ritmo. Assim que nos viu, desceu correndo e agarrou a mão de Pilar e Dario, os arrastando até lá em cima para tocar os instrumentos que respingavam tinta. Parei ao lado da minha tia e ficamos rindo dos três sujos de tinta da cabeça aos pés e brilhando no escuro, ao mesmo tempo em que nos escondíamos para não sermos levadas até lá também. E enquanto via os três no palco, percebi que aquela era a primeira vez que via um sorriso descontraído e sincero no rosto de Dario. Era a primeira vez que ele se divertia de verdade junto da gente, e fiquei feliz. Acho que finalmente íamos começar a nos entender...
‘Ele está muito esquisito’ Pilar comentou deitada de bruços ‘Nos dá bom dia, sorri, conversa. Parece até que está... Se divertindo!’ E rimos da entonação dela
‘Meu irmão diz que ele está mudando’ Marta parou de rir e falou séria
‘Isso é verdade, pois conversamos bastante da estação até a casa do vovô, ele estava bastante falante no carro’
‘Tem alguma coisa errada, não é possível esse menino mudar da água pro vinho!’ Pilar ainda soava perturbada e rimos. Helena pigarreou no canto do quarto. Nos calamos e olhamos para ela.
‘Só porque uma pessoa está tentando mudar para melhor não significa que alguma coisa está errada’ Comentou com desdém nos olhando atravessado por cima do livro
‘Ora, ora... Ela tem língua!’ Pilar provocou, mas não ri e a cutuquei
‘Do que está falando, Helena?’ Perguntei sem tom de deboche e ela fechou o livro
‘Dario está tentando fazer parte da nossa família, mas ninguém parece se importar. Ele não é mais aquele garoto esnobe, como Hanna ainda é. Ele mudou muito e duvido que tenham notado, mas ele nem fala mais direito com ela. Os “super-gêmeos”, como vocês gostam de dizer, não existem mais. Cada um escolheu o seu lado, e Dario quer fazer parte do nosso, entrar nesse circulo de primos que é tão unido e do qual ele nunca fez parte. Mas se uma pessoa tentar mudar é logo tratado como um esquisito e ninguém ao menos tenta entender o porquê’
‘Ninguém aqui está julgando ele, só estávamos conversando’ Marta se defendeu
‘Afonso e eu somos os únicos que conversamos com ele, nenhum de vocês dá abertura para que ele mostre que mudou’ Helena rebateu ‘Alguma vez desde que chegamos aqui vocês já chegaram nele e perguntaram como ele está?’ Riu ‘Não, é claro que não. Não é a toa que ele acha que nenhum dos primos o quer por perto e que não tem com quem conversar’
‘Então é por isso que...’ Pilar pensou alto e a encaramos curiosas ‘No enterro da vovó ele era o mais abalado, de longe. Quando fui falar com ele, Dario não me deu bola e saiu andando, mas antes disse algo como “não tenho mais com quem conversar, ela era a única que me ouvia”. Vovó conversava bastante com ele, não é?’
‘Sim, ela sempre me dizia que Dario passava horas conversando com ela’ Comentei sem graça por estar rindo dele antes
‘Por que não experimentam dar uma chance a ele?’ Helena abriu o livro novamente ‘Conversem com ele, se aproximem. Podem se surpreender’
‘Da licença’ Ouvimos batidas na porta e era Dario ‘Evie, seu namorado chegou. É melhor descer depressa, tio Johann está indo para a sala agora’
‘Ok, obrigada’ Apanhei a bolsa da cama depressa e parei na porta ‘Ei Dario, vai conosco mais tarde no Pleasure Island? Vamos só Pilar e eu, Marta não entra’ Falei rindo e ela me olhou torto
‘Injusto, vou ter que ir a um jogo de basquete!’ Reclamou e Pilar a sufocou com uma almofada
‘Ah, claro, vou sim’ Respondeu pego de surpresa, mas parecendo satisfeito. Sorri.
‘Ótimo, até de noite!’
Sai do quarto e desci as escadas depressa. Ultrapassei tio Johann no meio dela e agarrei a mão de Micah o puxando para fora da casa antes que ele chegasse ao hall e começasse mais um inquérito.
~*~*~*~*~*~
Passamos a tarde toda na casa dos seus pais adotivos em Daytona Beach. Andrea, a mãe dele, é uma médica de pronto-socorro muito simpática. Michael, o pai, era escritor. A maioria de seus livros era de suspense e Micah parecia já ter lido todos mais de uma vez. Tinha também o Wes, outro filho adotivo deles da nossa idade. Wes era do Alabama e como ele mesmo gostava de dizer, um perfeito caipira. Passou o dia todo de jeans, cinto com fivela de cavalos, camisa branca, chapéu e meia. ‘Não tenho permissão de entrar com as botas sujas dentro de casa’, ele se justificou quando rimos do traje.
E claro, tinha também o mais fofo de todos, Connor. Ele era irmão de verdade de Micah, e logo que chegamos me brindou com uma pérola que vai me render provocações por um longo tempo. Segundo ele, a bola que me atingiu na Califórnia há um ano não foi acidental, mas sim Micah que pediu para ele me acertar. Esperei pacientemente até ter a oportunidade de cutucá-lo, e foi apenas quando já havia anoitecido, enquanto estávamos deitados na areia da praia conversando esperando a hora de ter que voltar para casa.
‘Quer dizer que fui nocauteada de propósito?’ Perguntei fingindo estar séria e ele acreditou, pois gaguejou para começar a falar
‘Não é bem assim, Connor tende a exagerar as coisas. Não pedi que ele a nocauteasse, apenas esbarrasse em você’
‘E posso saber por quê?’
‘Porque via você por todo o canto na Califórnia e a achei linda logo de cara, mas quando te vi pela 3ª vez em duas semanas, pensei: tenho que falar com aquela garota. Mas se chegasse abordando você do nada, ia me achar um convencido idiota’
‘Verdade, ia mesmo’
‘Tinha certeza disso, então pedi ao Connor para correr na sua direção e dar um esbarrão de leve, que ai ia lá e pedia desculpa por ele e puxava papo. Mas Connor é um estabanado, acabou nocauteando você’
‘Não só a bola me acertou com força como ele caiu por cima de mim. Foi violento’ Ri
‘Desculpa por isso, não era mesmo a intenção’
‘Tudo bem’ Me ajeitei na areia e deitei por cima dele ‘Valeu a pena’
‘Ô se valeu’ Ele me virou depressa me prendendo na areia ‘Foi a bola mais bem arremessada da minha vida’
Ele deu um sorriso sacana e beijou meu pescoço, não me deixando sair com o peso do seu corpo. Mas eu não queria ir a lugar algum.
~*~*~*~*~*~
Micah me deixou em casa minutos antes do toque de recolher imposto pelos meus tios, mas nem ao menos tirei a bolsa do ombro. Pilar e Dario já estavam prontos para sairmos e notei que tio Heinrich e tia Sofia também estavam arrumados para irem conosco. Os demais iam assistir a um jogo de basquete do Orlando Magic. Pleasure Island era uma área de Downtown Disney repleta de boates e escolhemos a BET SoundStage Club para aproveitar a noite. Já estávamos dançando há horas quando veio o choque. Nossos tios sumiram e Dario puxou um maço de cigarros do bolso e acendeu um, enquanto ocupava a outra mão com uma bebida cheia de fumaça. Pilar me puxou pela mão para o outro lado.
‘Nunca achei que fosse dizer isso, mas Helena tinha razão. Esse menino ai é outra pessoa!’
‘Estou vendo, porque o Dario de antes levaria um tapa do tio Ivo se fumasse ou bebesse’ Disse ainda chocada olhando para ele ‘Quando começou a revolução?’
‘Não sei, mas conversei com ele essa tarde e ele até que é divertido’
‘Meninas, venham depressa!’ Dario envolveu os dois braços em volta dos nossos pescoços rindo ‘Tio Heinrich acabou de subir no palco e está imitando o DJ com passos de Hip Hop’
‘Merlin, por que ele sempre me envergonha quando saímos juntos?’ Pilar ergueu os braços, cansada, e rimos enquanto a seguíamos até o palco
Abrimos caminho entre as pessoas e não foi difícil encontrá-los. Tia Sofia se dobrava de rir na frente do palco enquanto nosso tio dançava em cima dele, totalmente fora do ritmo. Assim que nos viu, desceu correndo e agarrou a mão de Pilar e Dario, os arrastando até lá em cima para tocar os instrumentos que respingavam tinta. Parei ao lado da minha tia e ficamos rindo dos três sujos de tinta da cabeça aos pés e brilhando no escuro, ao mesmo tempo em que nos escondíamos para não sermos levadas até lá também. E enquanto via os três no palco, percebi que aquela era a primeira vez que via um sorriso descontraído e sincero no rosto de Dario. Era a primeira vez que ele se divertia de verdade junto da gente, e fiquei feliz. Acho que finalmente íamos começar a nos entender...