Because of you I never stray too far from the sidewalk
Because of you I learned to play on the safe side so I don't get hurt
Because of you I find it hard to trust
Not only me, but everyone around me
Because of you I am afraid

Kelly Clarkson – Because of You



Terminava de limpar as manchas do sangue do Greg do quarto da Evie quando ouvi dois estampidos altos. Meu pai esbravejou, uma voz conhecida o mandou calar a boca e o barulho de alguém batendo no chão pode ser ouvido. Corri para a janela e vi meu pai caído no chão, Johann parado ao seu lado pronto para acertá-lo outra vez. Alguém subia as escadas correndo e vi o vulto de Sofia passar, entrando no quarto da Evie e com um aceno de varinha, fazer tudo parar dentro de uma mala. Corri até lá e a interceptei no corredor.

‘Nem tente impedir alguma coisa, Dimitri’ Ela disse em tom de aviso

‘Não quero impedir’ Respondi no mesmo tom ‘Ela está bem?’

‘Não. Mas vai ficar bem, porque agora vai morar conosco. Só vim buscar as coisas dela, pra Evie que não precisa mais pisar aqui’

‘Espera, não vai ainda!’ Corri até meu quarto e ouvi Sofia reclamar, mas voltei depressa com um álbum na mão ‘Aqui, é da Evie. São fotos da mãe dela. Ele jogou fora, mas eu peguei de volta e limpei. Achei que ela fosse querer quando voltasse’

‘Obrigada...’ Sofia folheou o álbum e sorriu pela primeira vez ‘Dimitri, espero que saiba que você vai sempre continuar sendo bem vindo na casa do meu pai. Quando puder, vá visitá-la. Vai fazer bem a ela’

‘Obrigado. Eu vou, assim que der’

Ela sorriu outra vez e agradeceu o álbum, descendo as escadas correndo. Mal chegou ao térreo e ouvi os estampidos outra vez, que indicava que os dois já tinham ido embora. Desci as escadas receoso e observei a silhueta do meu pai de longe. Esperei o tempo que achei seguro para que pudesse sair, e como ele não se moveu, fui até lá. Chequei se ele ainda estava respirando, mas parecia tudo normal. Não sabia o que devia fazer, e nem se queria. Continuei encarando a figura desacordada dele e quando ele se moveu, corri para fora de casa. Ele ia acordar com raiva e não ia estar por perto para pagar o pato. Quando voltei pra casa, horas depois, já estavam todos dormindo outra vez...

ººº

‘A senhorita Stanislav já vai descer’

Agradeci com a cabeça e a governanta me indicou a sala de visitas com a mão. Fiquei esperado sozinho naquela sala imensa e observava as coisas ao meu redor. Sempre me senti um pouco intimidado pela casa, tudo nela soava imponente. Olhava com curiosidade para uma pintura na parede quando Johann passou pelo corredor e voltou quando me viu. Levantei depressa do sofá, desconfortável.

‘Dimitri!’ Me saudou animado, apertando minha mão ‘Que bom que veio até aqui. Que bom que veio’

‘Estou bem, na medida do possível’ Respondi um pouco desanimado ‘Mas em amanhã voltamos a Durmstrang, então as coisas vão melhorar’

‘Dimitri!’ Ouvi a voz de Evie me gritando. Ela veio correndo até mim e me abraçou. Johann saiu para nos deixar a sós ‘Não sabe como estou feliz em ver que está bem!’

‘Também estou feliz em ver que está bem’ A abracei mais apertado e depois a encarei ‘Você está bem agora, não é?’

‘É, agora estou bem sim’ Ela sentou no sofá e me puxou ‘Vovô disse que vou ficar morando com ele agora, disse que não vai mais me deixar sair’ Ela riu

‘Mudou seu nome já? A governanta disse o sobrenome do seu avô’

‘Não quero nada que me lembre dele, nem mesmo o nome’

‘Todo mundo já sabe, não é?’

‘Na verdade, não. Só o vovô, tio Johann, tia Sofia e o Micah. Vovô achou melhor não contar aos outros ainda, eles têm me dado muita força. Tia Sofia e Micah nem foram embora, ficaram direto’

‘Micah? O que ele faz aqui?’ Disse torcendo o nariz e ela fechou a cara

‘Não faça isso, Dimitri. Max e ele implicam com Micah sem qualquer motivo, não quero que você faça o mesmo. Ele é meu namorado agora, essa foi a escolha que eu fiz e gostaria que você respeitasse isso. Não me interessa o que ele e Max pensam, mas o que você pensa tem muita importância pra mim. Não estou pedindo que sejam amigos ou que você o idolatre, mas ao menos respeite. Não julgue as pessoas sem conhecer antes’

‘Desculpa’ Me senti um idiota de verdade. Nunca tive motivo pra implicar com ele ‘Fui atrás do Max, eu acho. Ele o odeia de verdade, sabia? Fala coisas horríveis, mas nunca entendi o motivo’

‘Não existe um motivo, por isso você nunca entendeu’

‘É, acho que não. Não vou implicar mais, prometo’

‘Obrigada, significa muito pra mim’ Ela sorriu e foi bom vê-la sorrindo assim, pois parecia feliz ‘Agora que tal vermos o que a Maria está fazendo na cozinha? Sinto cheiro de bolo...’

‘Ah, o bolo da Maria! Meu favorito!’

Levantamos do sofá depressa e corremos até a cozinha, onde um bolo quentinho acabara de sair do forno. Passamos o resto da tarde por lá mesmo, conversando. Só voltei pra casa quando escureceu, e não consegui dormi. Contava os minutos para o trem partir e eu voltar a ver o lugar onde me sentia em casa de verdade. E se pudesse, não sairia mais de lá.